Agora aos comandos do Velho Mirante, na Pontinha, em Lisboa, Pedro Reis virou a bússola gastronómica para o amado Alentejo, de onde o pai é natural, e de lá trouxe uma coleção de doces conventuais. Salgado, o arroz de cabidela continua também a fazer as delícias dos comensais, nesta casa na Pontinha.
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Ovos, açúcar e amêndoa. É sobretudo nesta trilogia que assentam as sobremesas conventuais do Velho Mirante, e que não estão no menu apenas por estar. Afinal, têm ligação direta à cozinha do Alentejo, região de onde José Pedro Reis, 62 anos, é natural. "O meu pai é proveniente de Vila Ruiva, entre Alvito e Cuba, em Beja", conta Pedro Reis, de 40 anos, já nascido em Odivelas. "O Alentejo é a minha paixão, assim como a do meu pai, por isso decidimos apostar nesta cozinha tradicional", justifica, agora que soma meio ano na gestão deste restaurante situado no centro da Pontinha.
O edifício de arquitetura civil do século XVIII, classificado como imóvel de interesse municipal, já é restaurante "há pelo menos 60 anos", mas no passado recente não teve modelos de gestão bem sucedidos, diz Pedro. Dois anos depois de uma sucessão de reveses o ter afastado dos franchisings da marca Luzzo, o empresário decidiu assumir a gestão do restaurante, empenhando 11 anos de tarimba como chefe de sala no icónico Solar dos Nunes. Agora, é tempo de recuperar a boa memória e a qualidade do Velho Mirante, tentando "que torne a ser uma referência" na cidade, almeja ele.
Conquistar os clientes pela doçura pode ser uma das estratégias a adotar nesta casa, apesar de ser pouco provável que alguém só lá vá para comer uma sobremesa. E não faltam opções. Das heranças conventuais listam-se a encharcada (elaborado com gemas de ovos e calda de açúcar e textura húmida e intensa), o pão de rala (bolo confecionado com açúcar, gemas de ovos e amêndoa e recheado com doce de gila, tendo origem nos conventos da região de Évora), e a sopa dourada, ou como Pedro lhe chama, "migas doces", feitas com os pedaços de pão alentejano e alguma manteiga.
Além destas, para encerrar a refeição o Velho Mirante propõe o tradicional pudim de ovos; tarte de amêndoa cremosa ligeiramente caramelizada; mousse de chocolate com pó de café moído; doce da casa; e um arroz-doce cuja receita é da mãe de Pedro, que "cozinha divinamente". As farófias, no entanto, ocupam o primeiro lugar do pódio. Com o café, o restaurante ainda serve um pequeno pastel de nata. As mudanças têm colhido "bom feedback dos clientes", conta Pedro, e deverão incluir ainda, em breve, o reforço da decoração, com a chegada de toalhas e pratos típicos de barro.
Já nos pontos fortes do Velho Mirante Pedro Reis não mexeu. "Mantivemos o arroz de cabidela no pote de ferro, que já era famoso no restaurante, e introduzimos os pratos do dia entre 10 e 15 euros", revela, proporcionando uma opção de peixe e outra de carne fixas de segunda a sexta, rotativos a cada cinco semanas. No menu fixo há espaço para a açorda de bacalhau à alentejana; açorda de camarão; arroz de perdiz de escabeche; bochechas de porco preto com puré de castanha; e lombinhos de porco preto com migas de poejo, entre outros. A rematar, é oferecido à clientela um licor de poejo caseiro.
Velho Mirante
Rua de Santo Eloy, 2 Pontinha, Odivelas
Tel.: 218 085 506
Web: velhomirante.pt
Das 12h às 15h e das 19h às 22h, de segunda a quinta; das 19h às 23h30 à sexta; das 12h às 16h ao sábado e domingo
Preço médio: 20-25 euros (sem bebidas)