Ex-militar, agora empresário, foi detido pela Polícia Judiciária quando ia no carro em direção ao aeroporto.
Corpo do artigo
O líder da rede suspeita de usar aviões militares de missões de paz na República Centro Africana (RCA) para traficar diamantes, desmantelada pela Polícia Judiciária (PJ), foi capturado na segunda-feira de manhã quando estava na iminência de fugir para a África do Sul. O homem, um ex-comando reconvertido em empresário, é um dos onze detidos que foi na terça-feira levado para o Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa para serem interrogados pelo juiz Carlos Alexandre. Ao fim da noite, sabia-se que pelo menos um arguido queria falar, prevendo-se que os interrogatórios se estendessem para o dia de hoje.
De acordo com informações recolhidas pelo JN, o líder, Paulo Nazaré, estava há meses a ser monitorizado por inspetores da Unidade Nacional de Combate à Corrupção. Anteontem de manhã, após ter sabido da realização de buscas no âmbito da "Operação Miríade", saiu de casa com malas de viagens que colocou num carro e começou a conduzir. O ex-militar, que deixou as Forças Armadas há cerca de cinco anos, já tinha um voo marcado para a África do Sul, mas acabou por ser detido a caminho do aeroporto pelos investigadores.
O homem será o cérebro do esquema que levou vários militares a aproveitar a falta de controlo alfandegário na base aérea de Figo Maduro, para trazer ouro e diamantes, extraídos de regiões africanas envolvidos em cenários de guerra, como a RCA.
A rede, composta por militares e ex-militares envolvidos em missões de paz da ONU, é suspeita de associação criminosa, contrabando de diamantes e ouro, tráfico de droga, contrafação e passagem de moeda falsa, acessos ilegítimos e burlas.
Os diamantes, comprados a intermediários locais e que eram escondidos em tubos de charutos pelos militares para chegar a Portugal, seguiam depois, via terrestre, para a Bélgica, onde eram vendidos. O dinheiro era depois branqueado em Portugal através de contas bancárias, tituladas por testas de ferro, que cobrariam 5% do valor.
Lavados 1,5 milhões
Os indivíduos investiam depois em moeda virtual, como os Bit Coins, que escapa ao controlo do sistema financeiro e das autoridades. No total, a investigação apurou que em Portugal foram lavados cerca de 1,5 milhões de euros, mas este valor poderá aumentar.
O caso foi denunciado há cerca de dois anos e partiu das próprias Forças Armadas. O JN sabe que o tráfico foi revelado internamente em África por um comando que acabou por ser buscado anteontem, por suspeitas de ter participado no esquema. Aliás, entre as 100 buscas realizadas, dois ex-comandos foram visados mas não chegaram a ser constituídos arguidos, mas sim ouvidos como testemunhas. Para já, o inquérito, a cargo da 10ª secção do DIAP de Lisboa conta com cerca de 40 arguidos.
Contrabando
Tropas suspeitos de trazer notas falsas e armas, além do diamantes
Os militares, atualmente na mira das autoridades, são suspeitos de contrabandear não só diamante, ouro e droga, como também armas. Esta é uma das linhas de investigação que irá ser agora esmiuçada pelos inspetores da PJ. A falta de controlo alfandegário, na base militar de Figo Maduro, para quem chegava de missões de paz da ONU na República Centro Africana, poderá ter facilitado todo o tipo de contrabando e o lucrativo negócio das armas de guerra poderá ter sido aproveitado pelos suspeitos. Porém, durante a centena de buscas, nenhuma arma de calibre de guerra foi encontrada. Foram apreendidas duas armas ilegais mas que serão nacionais.
Pormenores
320 Inspetores da PJ
Um total de 320 inspetores da PJ, assim como membros da Autoridade Tributária e procuradores estiveram nas buscas de Bragança a Faro.
Escutas telefónicas
Os detidos foram alvo de escutas onde são referidos negócios de centenas de milhões de euros. Mas, em Portugal, as autoridades apenas têm prova de branqueamento de 1,5 milhões.
Advogado e polícias
Entre os detidos há ex-militares que entretanto concorreram para as escolas da PSP e da GNR. Há também um advogado, que faria parte do núcleo duro e tinha um papel no branqueamento.