Um documento está em papel timbrado da Polícia Judiciária Militar e o "secreto" não tem datas nem assinaturas.
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Dois memorandos sobre a recuperação das armas de Tancos terão chegado às mãos do antigo chefe de gabinete de Azeredo Lopes. Um oficial, em papel timbrado com todas as formalidades, explicando a versão do telefonema anónimo; e o outro, confidencial sem assinatura, nem data, da autoria do major Vasco Brazão, que admite a encenação da operação.
Não se sabe qual deles foi enviado, esta semana, aos procuradores do DCIAP pelo general Martins Pereira, que - recorde-se - nega desde a primeira hora ter sido informado de qualquer encenação. Tal como o ministro demissionário, o ex-chefe de gabinete veio a público dizer que, durante a reunião que teve com Brazão e o ex-diretor da Polícia Judiciária Militar, coronel Luís Vieira, não lhe "foi possível descortinar qualquer facto que indiciasse alguma irregularidade ou indicação de encobrimento de eventuais culpados do furto de Tancos".
A versão de que até Azeredo Lopes tinha sido informado da encenação foi adiantada pelo major Vasco Brazão. No interrogatório, que viria a ditar a sua prisão domiciliária, assegurou ter fornecido, em mãos, a Martins Pereira, em novembro passado, um memorando com os detalhes da operação da recuperação das armas, onde é assumida a encenação. Nessa reunião, garantiu, estava presente Luís Vieira.
Desmentido
Atualmente em prisão preventiva, o ex-líder da PJM desmentiu que tenha estado reunido com Brazão, no gabinete do ministro da Defesa, quando terá sido entregue o memorando oficioso. De acordo com o jornal "Expresso", Luís Vieira afirmou, nos interrogatórios, ter participado em apenas uma reunião a 19 de outubro, logo no dia seguinte à recuperação das armas.
Nessa reunião, foi entregue o memorando oficial, chamado "Relatório de Ocorrências". Nesse documento, é referida a chamada anónima, que, na versão oficial, viria a conduzir dois elementos da PJM e investigadores da GNR de Loulé ao local da Chamusca, onde foi recuperado o armamento.
Novos interrogatórios
Para esclarecer estas dúvidas, o ex-diretor da PJM foi ontem notificado para prestar novas declarações do DCIAP, onde será confrontado, por um lado, com a existência de dois memorandos, mas também com as declarações de Vasco Brazão, que o colocam no centro da encenação.
Este antigo porta-voz da PJM também vai voltar a ser ouvido, a seu pedido, pelos procuradores. Neste novo interrogatório, Brazão deverá mostrar o memorando oficioso que garante ter disponibilizado ao ministério.
A par deste inquérito, que apenas investiga a recuperação das armas, o DCIAP continua a debater-se com o processo inicial do furto do armamento de Tancos.
O JN sabe que a PJ ainda tem diligências em curso para identificar os envolvidos.