PJ realizou buscas à Câmara de Lisboa para recolher documentos no inquérito que investiga alegada teia composta por figuras do PSD e PS.
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A Polícia Judiciária (PJ) voltou, na terça-feira, à Câmara de Lisboa para realizar buscas no âmbito do processo Tutti Frutti que investiga crimes de corrupção, tráfico de influência, participação económica em negócio e eventual financiamento partidário envolvendo principalmente figuras do PSD e do PS. O megainquérito, que começou em 2017 e ganhou recentemente um novo impulso, já conta com dezenas de arguidos de vários quadrantes políticos e envolve nesta altura duas dezenas de autarquias.
De acordo com informações recolhidas pelo JN, as buscas de ontem foram ordenadas pelo Ministério Público (MP), que esteve nas últimas semanas a interrogar suspeitos e arguidos. Durante estas inquirições, apareceram novos factos com outras linhas de investigação. Surgiu então a necessidade de procurar documentos relacionados com as alegações dos arguidos e suspeitos, para ser possível confrontá-los. Parte desta documentação foi ontem recolhida na Câmara de Lisboa.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) confirmou ao JN a realização de buscas no âmbito do processo Tutti Frutti. "O mesmo encontra-se em investigação no DIAP de Lisboa e está sujeito a segredo de justiça", adiantou a mesma fonte.
Buscas cirúrgicas
Luís Neves, diretor nacional da PJ, declarou ontem aos jornalistas que as buscas foram motivadas pela necessidade de obter "cirurgicamente" documentos.
"Quando numa determinada investigação, em que já decorreram buscas, é necessário cirurgicamente encontrar um documento ou ir à procura dele, a PJ e o Ministério Público diligenciam", afirmou Luís Neves, adiantando que "foi isso que aconteceu na Câmara de Lisboa. Luís Neves admitiu apenas que se trata de "factos em investigação, mais antigos até" do que o mandato de Fernando Medina, naquela autarquia. Excluiu também que António Costa seja visado.
Ainda segundo o JN apurou, os inspetores da PJ recolheram atas de reuniões do Executivo então liderado por Medina, mas também adjudicações relacionadas com o departamento de turismo da Câmara.
A investigação do "Tutti Frutti" começou em 2017 e teve no início como principal suspeito um antigo conselheiro nacional do PSD, Carlos Eduardo Reis, dono de uma empresa da área da jardinagem, em Barcelos. Está indiciado, entre outras coisas, de ter obtido contratos duvidosos de autarcas. Ao longo dos anos, o espetro da investigação alargou-se.
Empregos fictícios
Em junho de 2018, mais de 150 inspetores realizaram cerca de 70 buscas a partidos, câmaras, juntas, empresas e residências. Em causa estavam suspeitas da existência de uma rede composta por elementos do PSD e do PS, envolvidos em adjudicações duvidosas, mas também de avenças fictícias para manter salários a "boys" dos partidos.
Terá sido aquela teia de empregos oferecidos a militantes do PSD à custa do erário público que levou a PJ a iniciar a investigação, alargando-a depois ao PS. Essa diversidade de suspeitas sobre várias cores partidárias foi o mote para o nome "Tutti Frutti".