Líderes partem com expectativas diferentes para eleições em que (quase) tudo pode acontecer
<p>Se de alguma coisa valesse a oficialidade, por ser este o primeiro dia de campanha eleitoral, diríamos que Manuela Ferreira Leite começa nos Açores a corrida das legislativas. Mas a verdade é que o arranque foi a 30 de Agosto, na Universidade de Verão da JSD. Não por qualquer mudança no discurso, mas porque, logo aí, a líder passou a marcar na agenda pessoal o figurino que seguirá nas próximas duas semanas.</p>
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"Política de verdade" é o mote do programa eleitoral. Um lema que se adequa à imagem austera da candidata e ao modelo da campanha: se a verdade pressupõe esclarecimento, o esclarecimento implica menos espalhafato. A presidente do PSD rompe com a tradição: zero comícios; apenas dois ou três jantares abertos; sessões públicas diárias no ambiente controlado de espaços fechados; uma só acção de rua por dia. O PSD concorre para governar, isoladamente ou coligando-se à direita. Qualquer outro cenário será uma derrota. A estratégia é arriscada, mas ainda está por saber até que ponto uma campanha alegre dá mais dividendos.
H á feiras, pois claro, agricultores, arruadas e jantares, muitos jantares, nos quais se pretende dar uma visão mais detalhada do programa eleitoral. O CDS arranca a campanha em festa - o líder, Paulo Portas, comemorou ontem 47 anos de idade. Rebobine-se: o CDS arranca a campanha, oficialmente, em festa. E sublinhe-se o "oficialmente". Com um traço carregado. Porque há muito que o presidente da CDS anda a palmilhar o país, de trás para a frente, da frente para trás. Qual papa-léguas, Paulo Portas já esteve em mais de 100 municípios, já percorreu incontáveis quilómetros. No partido destaca-se a importância do contacto com as pessoas. Garantia: há ideias que são colhidas ali mesmo, na rua, entre um aperto de mão e um sorriso. Um bom resultado, diz o partido, é deixar para trás CDU e BE. Reforçar a posição da Direita, dando seguimento ao resultado favorável que o CDS garantiu nas Europeias. Em ano de eleições sucessivas, Portas ainda vai dar uma mãozinha aos candidatos autárquicos das localidades por onde vai passar.
O bjectivo claro: reforçar a percentagem de votos em relação a 2005. É essa a meta proposta pela CDU, ultrapassar a barreira 7,57% dos votos arrecadados nas últimas eleições para se sedimentar, assim, como terceira força política. Os resultados das Europeias - 10,66%, o melhor resultado percentual dos últimos 15 anos - dão ânimo, mas o crescimento do Bloco de Esquerda é um facto incontornável e que obriga a uma estratégia bem delineada da parte do líder Jerónimo de Sousa.
As linhas mestras da campanha passam por uma aposta forte nos distritos onde a CDU já tem deputados eleitos, supostamente, porque assim será mais fácil recolher simpatias em terrenos favoráveis como são o Alentejo, Setúbal e Lisboa. O arranque está agendado para hoje, às 17.30 horas, num comício em Évora. A CDU programou sete comícios e apostou em contactos com as populações locais para sublinhar as ideias-chave: valorização do trabalho, dos salários e das pensões, em ruptura com as políticas de direita.
OBE arranca com o epíteto de terceira força. As sondagens apontam para um florescimento nas intenções de voto nos bloquistas, o que se poderá traduzir na duplicação dos deputados. "Ganhar é ter mais votos, é crescer", vincou ao JN Jorge Costa, director de campanha do BE.
É com essa intenção que Francisco Louçã vai querer "agarrar" os distritos que nas últimas eleições lhe escaparam e por isso marcou comícios e várias acções de rua em locais onde acredita que poderá fazer a diferença. Faro, Coimbra, Santarém, Braga e Aveiro são alguns dos distritos que vai visitar para obter apoios.
A campanha será pautada por debates sobre os grandes assuntos defendidos no programa eleitoral, nomeadamente as propostas para economia como antídoto para a crise, a segurança social, saúde, educação e justiça, sem esquecer os negócios a que os bloquistas chamam de "escandalosos".
Louçã vai guiar-se por uma política de proximidade. "Vamos escutar cada pessoa, vamos responder às pessoas".
O PS decidiu arrancar oficialmente a campanha na pequena freguesia de Mosteiros, em Arronches, distrito de Portalegre, por ter sido o local onde teve a maior votação nas legislativas de 2005: 72% dos votos. É uma escolha simbólica, mas que diz muito das expectativas do partido para o sufrágio de 27 de Setembro: conseguir uma vitória que lhe permita voltar a formar Governo e ter "estabilidade governativa". Sem querer pronunciar-se sobre o que fará no caso de uma maioria relativa - "cenário" que não quer equacionar -, o porta-voz do PS, João Tiago Silveira, vai dizendo que "seria mau que, com o crescimento da Esquerda, acabássemos por ter Governo de Direita", denotando preocupação com o previsível crescimento do BE. Sócrates vai correr todos os distritos - só não vai à Madeira - para relembrar o que fez em quatro anos e dizer aos portugueses que "não há opção à Esquerda sem uma votação forte no PS". Vai fazê-lo em acções de rua e comícios diários que pretendem "mobilizar todas as pessoas que são do espaço político da Esquerda", num apelo claro ao voto útil.