<p>Ex-governantes e empresários do Centro-Direita poderão dar a cara no apoio ao PS, como já fez José Miguel Júdice. O PSD censura "o ruído" que distrai o eleitorado do essencial e os restantes partidos reforçam a via do contacto directo com a população.</p>
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Manuel Alegre esteve ontem em Coimbra; hoje, no comício do PS no Porto, o palco é de Mário Soares. "Outros aparecerão. Gente que sempre foi do PSD e que vai votar PS", garantiu ao JN um secretário nacional do PS. "Conheço dois ex-ministros do PSD e uma dúzia de empresários do Centro-Direita que admitem votar em Sócrates, mas não revelo os nomes", afiançou, por seu lado, um ex-governante de Cavaco Silva. Júdice já o confirmou.
O director da campanha socialista, Vieira da Silva, mandou dizer ao JN que nada sabe sobre o assunto. E, contudo, na caravana socialista tudo é preparado ao pormenor e sem nada ficar ao acaso: desde os equipamentos montados 12 horas antes do início dos comícios, ao púlpito posto na intercepção das linhas do estrado em "Y". O líder entra ao som da banda sonora do "Gladiador" - a mesma de 2005 - e antes dos discursos ecoa "Viva la vida" dos Coldplay.
Os dias socialistas confinam-se ao período entre as 11 e as 23 horas. O jantar privado é o único momento de descanso de Sócrates. Dos distritos menos habitados para os mais populosos, a caravana irá ainda aos Açores. Ontem, Alegre falou em Coimbra "porque há um combate difícil a travar e não quero que a Direita ganhe", justificou ao JN. Se não tivesse ido, poderia ser acusado de desertar num momento de aperto para o partido? "Estou-me nas tintas para quem pensasse isso", foi a resposta.
No PSD, a opção por uma campanha mais discreta é explicada pelo director da volta pela vontade de "fazer chegar a mensagem da líder às pessoas de forma natural e sem artificalismos".
Percorrer todos os distritos e realizar as iniciativas antes do jantar "tem funcionado bem", assegura Emídio Guerreiro. Acompanhada por membros da JSD, Manuela Ferreira Leite já teve a seu lado Alexandre Relvas, António Borges e ontem, em Coimbra, Marcelo Rebelo de Sousa.
Diz que as notícias em que "artificialmente se procura ruído para distrair as pessoas do essencial" se devem ao facto dos sociais-democratas estarem "a ser bem sucedidos". Mesmo sem os tradicionais comícios, banidos pela presidente. E ao cinzentismo da líder, contrapõe: "O que menos conta é a imagem. Isso foi o que tivemos durante quatro anos e meio e os resultados são estes".
Eléctrico é Paulo Portas quando anda nas feiras. "Fez uma por dia desde domingo", conta João Rebelo. O líder do CDS-PP começou a ronda em Julho e optou por um roteiro "dois em um", conciliando acções para as legislativas com as de pré-campanha autárquica. Para não parecer um "iô-iô", o périplo começou em Trás-os-Montes e vai descendo até ao Sul, diz o director de campanha.
Cumprimentado em Ponte de Lima por um agente da PSP, é pelos idosos e as mulheres que é mais bem acolhido. Reduzida a ingestão de café a sete diários, cortou igualmente nos discursos, que passaram a 25 minutos.
Também Jerónimo de Sousa tem primado por alocuções directas de 20 minutos e tido recepções calorosas onde surgem desabafos como o do cidadão que pediu "licença" para dizer que "a educação e a saúde em Portugal são uma merda".
Pontual e afável com quem se queixa - sobretudo reformados -, o líder do PCP faz uma arruada de manhã e outra de tarde, antes do comício num espaço coberto. Em Coimbra, contou com Mário Nogueira, o dirigente da Fenprof, arauto do descontentamento dos professores.
No BE, foi Fernando Tordo que deu música em Setúbal. Aliás, Francisco Louçã tem sido acompanhado por uma banda "jazzista" nas arruadas, reservando os recados políticos para os comícios - quase sempre em auditórios. Com dificuldade em manter um semblante menos sério, o líder bloquista contorna a sisudez, com a delicadeza na abordagem.