O ex-presidente do Brasil, Lula da Silva, está a assistir à missa de homenagem à esposa, Marisa Letícia e disse que se ia entregar à polícia "de cabeça erguida". Veja em direto.
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A imprensa brasileira dá como certo que, logo após, a celebração religiosa, Lula vai entregar-se à Polícia Federal, para ser detido.
Ministro Edson Fachin nega pedido de Lula para evitar prisão
Lula apresentou mais um recurso no Supremo Tribunal de Justiça na noite desta sexta-feira, com o objetivo de suspender a decisão da prisão determinada pelo juiz Sérgio Moro até à análise de novos recursos no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4).
No entanto, também foi negado pelo juiz relator Edson Fachin, uma vez que o facto de haver recursos para serem analisados não impede o cumprimento da pena de prisão, de acordo com a jurisprudência do Supremo.
Polícia Federal diz que a prioridade é negociar a entrega
A Polícia Federal afirmou que Lula é que tem de definir o momento em que se vai entregar, uma vez que não pretende uma ação ostensiva.
No momento, estão a ser acertados os ajustes finais para a entrega de Lula pela Polícia Federal de Curitiba, que espera que ele cumpra o compromisso de se apresentar ainda este sábado, em São Paulo.
O procurador da República da 4.ª Região, Maurício Gerum, que requereu a prisão do ex-presidente ao TRF-4, afirmou que a medida seria necessária para "estancar a sensação de omnipotência" de Lula.
Um dos padres presentes em cima do palco diz que "o que aconteceu no Brasil foi um golpe"
D. Angélico Sandalo Bernardino afirmou que todos ali presentes desejam a sua liberdade e que, qualquer que fosse a decisão tomada, que ele cuidasse "bem da sua saúde". "Aqui está um cidadão que já esteve preso e que nenhuma prisão prende o coração, a mente e os ideais de um cidadão. Continue a entregar a sua vida à causa da paz", disse.
"Todos nós temos a convicção de que o que aconteceu no Brasil foi um golpe. Só que o golpe teve 50% quando a presidenta Dilma foi afastada do cargo e outros 50% quando impedem a você de ser candidato, pisando no sistema democrático", acrescentou.
Lula da Silva fala pela primeira vez em público depois do mandado de prisão
Lula começou por cumprimentar os colegas e amigos presentes em cima do palco e reconheceu a "qualidade e competência técnica" de Dilma, "possivelmente a mais injustiçada das mulheres que ousaram fazer política", dizendo que está-lhe "grato de coração" e que partilhará com ela o seu sucesso na presidência.
O ex-presidente falou sobre a importância do Sindicato dos Metalúrgicos na sua vida, que serviu como uma escola onde aprendeu a fazer política, desde 1968, aquando da sua candidatura. Sublinhou também as conquistas do sindicato e uma das maiores greves que o organismo realizou, em 1979.
Um ano depois, Lula dirigente sindical de então do ABC foi preso, durante 31 dias, pelo DOPS, a polícia política do regime militar.
O ex-presidente começou a falar pelo caso em que é julgado, dizendo que o Ministério Público mentiu a dizer que o apartamento era dele. "No processo do meu apartamento, eu sou o único ser humano que sou processado por um apartamento que não é meu", disse.
"Não perdoo (os envolvidos) por terem passado a ideia para a sociedade de que eu sou um ladrão", exclamou, afirmando ainda que está de consciência tranquila. "Nenhum deles tem coragem ou dorme com a consciência tranquila, da honestidade, da inocência, que eu durmo", referiu.
Apesar disso, o ex-presidente diz acreditar na justiça, "numa justiça justa, que vota um processo baseado nos autos do processo, nas informações das acusações, das defesas, na prova concreta", mas que "não pode admitir um procurador que fez um Power Point e foi para a televisão dizer que o PT é uma organização criminosa que nasceu para roubar o Brasil".
"Quanto mais me atacam, mais cresce a minha relação com o povo brasileiro", exclamou.
"Eu, há muito tempo, sonhei que era possível governar este país envolvendo milhões de pessoas pobres na economia, nas universidades, criando milhões de empregos", diz Lula.
Lula diz que tem um profundo orgulho em ser o único presidente sem ter um diploma universitário e afirma que "não se confunda inteligência com quantidade de anos na faculdade". "Mas sou o presidente que mais fez universidade na história desse país", sublinhou.
Lula, que diz já não ser mais um "ser humano" e sim "uma ideia", referiu ainda que é vítima de perseguição pela imprensa e pelo Ministério Público, dando o exemplo da morte da esposa e do "orgasmo múltiplo" que alguns meios de comunicação brasileiros teriam em ter uma fotografia do ex-presidente preso.
Durante este tempo em que tem vindo a enfrentar dificuldades, Lula diz que os seus "amigos de gravatinha" desapareceram e que os únicos que se mantêm são os da altura do sindicato.
O ex-presidente afirmou que se vai entregar à polícia, "enfrentando-os, olhando-os nos olhos" e para eles saberem que não tem medo e poder provar a inocência. Desta forma, "nascerão mais 'Lulas' neste país", disse Lula que afirma que vai "de cabeça erguida" e sairá "de peito estofado".
"Eu não tenho medo deles. Eu até já falei que gostaria de fazer um debate com o Moro sobre a denúncia que ele fez contra mim. Eu gostaria que ele me mostrasse alguma coisa de prova", diz Lula. A justiça vai provar que quem cometeu o crime foi a justiça que me condenou, o juiz e o Ministério Público", disse.
No entanto, Lula afirmou que não é contra a operação Lava Jato: "se pegar bandido, tem que pegar bandido mesmo que roubou e prender".
Se dependesse de mim, eu não ia, mas vou", afirmou Lula que disse não estar escondido e que se vai entregar para saberem que ele não tem medo. O ex-presidente diz que sairá "maior, mais forte, verdadeiro e inocente" de toda esta situação.
Os poderosos podem matar uma rosa, mas jamais poderão impedir a chegada da primavera", citou uma frase que ouviu de uma menina de 10 anos.
Quanto a eleições, Lula continua a ser candidato e disse que, no fundo, não precisa de estar presente. "Tenho milhões a andar por mim", disse.
Lula da Silva terminou o discurso e dirigiu-se novamente para o interior do sindicato, sendo levado nos braços da população que assistia.