Ameaças de ataques de grupos paramilitares obrigou, este sábado, dezenas de cidadãos a suspender uma marcha convocada na localidade de Caricuao (oeste de Caracas).
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"Suspendemos a concentração e a marcha porque há muitos grupos paramilitares perto que estão à espera para atacar os manifestantes. Há pessoas que chegaram à estação do Metropolitano e não subiram para não ser vítima da repressão", disse a lusodescendente, porta-voz da Coordenadora de Lutas Sociais de Caracas.
Andrea Tavares falava à agência Lusa em Caricuao, onde várias pessoas explicaram estar na disposição de se manifestar, mas que usariam máscaras pintadas com as cores da Venezuela para evitar serem identificadas, por temor a represálias contra a integridade física de familiares.
"Isto é um regime, uma ditadura que imprime muito temor nas pessoas e isso gera dificuldade para organizar uma concentração", frisou.
Ex-dirigente de Pátria Para Todos, uma organização que apoio o projeto revolucionário do então Presidente Hugo Chávez, a lusodescendente Andrea Tavares explicou que os participantes dirigiram-se para um sítio mais seguro para coordenar ações de luta que poderão passar pela convocatória não publicitada de protestos, a fim de evitar que grupos de coletivos armados ataquem ou impeçam os cidadãos de se manifestarem.
"Estamos organizando um protesto em todo o país pela crise. Na Venezuela temos grandes problemas económicos. Somos um país que tem uma produção de petróleo muito grande, com o barril a um preço muito importante, mas não tem alimentos, nem medicamentos. Todos os dias há grandes filas nos mercados para comprar dois pacotes de açúcar, um pacote de café", disse.
"As pessoas estão cansadas e sem condições. Temos um número muito elevado de mortos pela criminalidade. Não há garantias de segurança, de alimentos, os hospitais estão sem materiais para atender os pacientes. Não temos liberdade de expressão porque os meios de comunicação foram comprados pelo governo e os que são privados estão sob muita pressão, têm sido as redes sociais, a Internet e o Twitter uma ferramenta para divulgar informação", disse.
Segundo Andrea Tavares nos últimos anos surgiram "grupos paramilitares que com armas de alto calibre estão permanentemente a assustar as pessoas que querem protestar, dizer o que acontecesse na Venezuela".
"Estamos em resistência. Já fizemos três marchas e fomos atacados pela polícia, e por grupos coletivos, por paramilitares", frisou.
A Venezuela é palco, há mais de um mês, de protestos diários, durante os quais pelo menos 28 pessoas foram assassinadas e várias centenas ficaram feridas.
Segundo a imprensa local 2.841 pessoas foram assassinadas na Venezuela entre janeiro e fevereiro de 2014, um número superior aos 2.576 homicídios ocorridos em igual período do ano anterior.