EUA de novo em alvoroço. Adolescente tocou à campainha errada e foi baleado duas vezes
Ralph Yarl, de 16 anos, ia buscar os irmãos a casa de uns amigos em Kansas City, no estado de Missouri, mas enganou-se na morada e tocou à campainha errada. O proprietário baleou-o duas vezes, uma delas na cabeça, e o caso está a gerar uma nova onda de protestos nos EUA. Depois de ter estado três dias internado no hospital, Yarl teve alta e vai ser recebido na Casa Branca.
Corpo do artigo
Um caso, mais um, que está a chocar os EUA. Ralph Yarl, de 16 anos, saiu de casa na última quinta-feira para ir buscar os irmãos gémeos a casa de uns amigos, mas acabou no hospital. O jovem negro enganou-se na morada, tocou à campainha errada e foi baleado duas vezes pelo proprietário da habitação, no braço e na cabeça. Ferido e sem telemóvel, conseguiu levantar-se, fugir e pedir ajuda a outras casas nas redondezas. Foi transportado para o hospital, onde esteve três dias e, agora, está a recuperar em casa. Mas a família e os norte-americanos não calam a revolta. Também os amigos de escola do jovem realizaram uma marcha a reclamar por justiça
"O meu sobrinho ia buscar os irmãos mais novos a uma casa perto da dele. Não tinha o telemóvel consigo. Enganou-se na morada por um quarteirão, estacionou junto à casa errada e tocou à campainha. O homem que abriu a porta olhou-o nos olhos e baleou-o na cabeça. O meu sobrinho caiu no chão e o homem voltou a baleá-lo. O Ralph conseguiu levantar-se e correr para a casa dos vizinhos, à procura de ajuda. Infelizmente, teve de bater a três portas até que alguém aceitasse ajudá-lo", contou Faith Spoonmore, tia do jovem, que lançou uma campanha de angariação de fundos para apoiar a recuperação do sobrinho.
Polícia diz reconhecer "componentes raciais do caso"
Se o caso, por si, já ia criar grandes repercussões, ainda mais revolta criou quando o atirador, Andrew Lester, de 85 anos, foi libertado 24 horas depois, sob fiança, após ter prestado depoimento à polícia, devido à necessidade de se obter uma declaração formal da vítima e reunir-se provas forenses. Segundo a denúncia criminal, o suspeito disse às autoridades "que era a última coisa que queria fazer", mas que estava "a morrer de medo" devido ao tamanho do jovem e à idade e incapacidade que tinha para se defender. Questionado sobre se o tiroteio pode ter sido motivado por racismo, o chefe da polícia indicou que "a informação recolhida até ao momento não indica motivação racial". "É uma investigação ainda a decorrer. Mas, como chefe da polícia, reconheço os componentes raciais deste caso", acrescentou.
A libertação do suspeito - que entretanto se entregou e foi acusado de agressão e ação criminosa armada, correndo o risco de ser condenado a prisão perpétua - levou a protestos por parte dos norte-americanos. "Tocar à campainha não é um crime", ouviu-se. A família do jovem afirma que a reação do proprietário da casa foi motivada por questões raciais, alegação que foi confirmada pelo procurador Zachary Thompson: "Houve componente racial neste caso. Fingir que a raça não é parte de toda esta situação seria enfiar a cabeça na areia".
"Ele chora e está sempre a reviver o incidente"
Ralph Yarl integra uma banda escolar e tem o sonho de concluir o ensino secundário e visitar a África Ocidental, antes de se licenciar em engenharia química. Agora, está em casa a recuperar dos disparos e, segundo a mãe, há um longo caminho a percorrer, tanto a nível físico como psicológico. "Ele foi e tocou à campainha e, supostamente, devia esperar pelos irmãos do lado de fora, entrar no carro e vir para casa. Enquanto esteve ali, de pé, os irmãos não saíram, mas ele levou dois tiros. O Ralph está sempre a reviver o incidente, sem parar. E, como mãe, parte-me o coração vê-lo naquele estado", afirmou Cleo Nagbe, em declarações à CBS.
Biden já falou com Ralph
Desde que o caso foi tornado público, choveram críticas na sociedade norte-americana e aos líderes políticos do país. O presidente do EUA, Joe Biden, já falou com Ralph Yarl ao telefone e o adolescente foi convidado a visitar a Casa Branca. "Nenhum pai deveria preocupar-se com a possibilidade de o filho levar um tiro após tocar à campainha errada. Temos que manter a luta contra a violência armada. Ralph, vemo-nos na Casa Branca quando estiveres melhor", escreveu o presidente norte-americano no Twitter. Também a vice-presidente Kamala Harris comentou o caso: "Vamos ser claros: nenhuma criança deve viver no medo de ser baleada ao tocar à campainha da porta errada".
1647615861312700416
