As famílias de Chã das Caldeiras estão a viver um "momento dramático", não só por terem perdido as casas, mas sobretudo as terras de sequeiro e pastagens, disse a ministra do Desenvolvimento Rural de Cabo Verde.
Corpo do artigo
Em declarações à agência Lusa, Eva Ortet indicou que o Governo está a procurar alternativas, sobretudo para o gado, admitindo, porém, que a lava das sucessivas erupções vulcânicas que assolam, desde 23 de novembro, a ilha cabo-verdiana do Fogo continua a causar destruição.
"É um momento dramático, porque é toda uma vida, todo um ambiente de trabalho de mil pessoas, de muitas famílias, que estão em risco de perder o seu principal fator de sobrevivência, que é a terra. As casas podem ser reconstruidas, mas as terras, se as lavas as engolirem, já não há como", afirmou Eva Ortet.
Falando, emocionada, à Lusa em São Filipe, a principal cidade do Fogo, de onde tem seguido há uma semana o evoluir da situação, Eva Ortet disse esperar que as várias frentes de lava "poupem um pouco" as áreas agrícolas que restam, para que os residentes possam voltar à agricultura.
"Temos de pensar uma alternativa para as famílias, que sabem cultivar a terra, criar os animais. O Governo está ciente disso e já está a propor atividades de curto prazo, para que todo este momento de deslocação das populações possa decorrer de forma mais tranquila", salientou.
Segundo Eva Ortet, essas propostas passam por garantir "alguma atividade geradora de rendimento", como a pequena pecuária familiar, uma vez que o Estado tem um "vasto terreno" agrícola e de pastagem no Monte Verde, para onde o gado está, aos poucos, a ser transferido.
"A pecuária é uma outra solução para garantir um rendimento efetivo e estável e será um outro setor que devemos desenvolver rapidamente. Se as famílias não conseguirem recuperar as terras, a pecuária poderá salvar-lhes a situação", frisou.
"Para o médio prazo, estamos a trabalhar em alternativas, porque, quando falamos em agronegócios, pensamos logo em Chã das Caldeiras, no vinho Chã. Esse é um filão da agricultura que estava a desenvolver-se muito bem e podemos pensar e ver alternativas para continuar a produzi-lo", indicou.
A área de vinha, porém, não tem estragos, uma vez que está plantada nas encontras e a lava ainda não as atingiu, garantiu a ministra do Desenvolvimento Rural cabo-verdiana, indicando que a área destruída foi a de sequeiro, onde se cultivam os tubérculos (batata e mandioca) e legumes.
"Não houve, para já, estragos na cultura da vinha. Espero que a erupção poupe pelo menos essas áreas e poderá servir-nos ainda para continuarmos a cultivá-la, a produzir na Chã das Caldeiras. Seria muito difícil e cruel para a população de Chã das Caldeiras não ficar nada (para cultivar)", considerou.
Sobre o efeito no pasto das toneladas de gases, como os dióxidos de enxofre e de carbono, expelidas pelas várias bocas vulcânicas, Eva Ortet admitiu que, em zonas limítrofes de Chã das Caldeiras, as pastagens estão cobertas de cinzas, o que tem provocado um efeito nefasto na alimentação do gado, que se recusa a comer.
"Já sensibilizamos os criadores de gado para retirarem os seus animais de Chã das Caldeiras e disponibilizámos a área no Monte Verde (nordeste), que não foi afetada. Mas também há empresas que enviaram uma quantidade enorme de milho, para as pessoas, e de ração, para os animais", explicou.
"São pessoas que não são de Chã das Caldeiras e que sofrem um pouco do efeito da erupção vulcânica que afeta a população de Chã das Caldeiras, do Fogo, de Cabo Verde e de toda a diáspora. Mas há uma grande onda de solidariedade", concluiu.