Em 2017, Vanellope nasceu com o coração fora da cavidade torácica e a probabilidade de sobreviver era baixa. Agora com sete anos, cirurgiões do Reino Unido usaram as costelas da criança para formar uma “gaiola” que protege a cavidade torácica que lhe garante uma maior qualidade de vida.
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Vanellope tinha menos de 10% de probabilidade de sobreviver depois de ser diagnosticada com “ectopia cordis” quando nasceu. A menina apresentava uma malformação congénita rara em que o coração fica localizado fora da cavidade torácica. Ikenna Omeje operou a criança apenas 50 minutos depois dela ter nascido. “Foi emocionante para todos, porque era algo que nunca tínhamos visto antes. Por isso, foi notícia, não só no Reino Unido, como em todo o mundo”, revelou o médico.
A menina foi autorizada a regressar a casa depois passar 14 meses internada no hospital, mas, desde então, usa uma cinta à volta da cavidade torácica para proteger o coração, o que requer cuidados 24 horas por dia. Foi só agora, com sete anos, que Vanellope reuniu todas as condições para uma cirurgia reconstrutiva cujo objetivo era formar uma estrutura permanente à volta do coração. O procedimento foi realizado na passada quinta-feira, no Leicester Royal Infirmary.
Nitin Patwardhan, cirurgião pediátrico que interveio no nascimento de Vanellope, voltou a marcar presença nesta cirurgia. “Tendo estado nesta profissão durante tantos anos, é algo que nos deixa ansiosos porque, no final do dia, estamos a fazer algo que vai mudar a vida de alguém”, partilhou Nitin, citado pela BBC.
“Sinto-me extremamente orgulhosa por ver o quão longe ela chegou, o que ultrapassou e o que está a conseguir. Ela é tão corajosa”, contou Naomi Findlay, mãe de Vanellope, que confessou que os momentos em que a deixa no hospital são de “muita ansiedade, preocupação e muitas emoções”, sempre com receio de a entregar e de não a ter de volta.
O médico Ikenna Omeje explicou que o coração da menina se agarrou à camada fina de pele que o protege e que desprendê-lo era arriscado, uma vez que podiam “danificar o vaso que está a tentar entrar na cavidade torácica”. Deste modo, na cirurgia, foi primeiramente colocado bypass, que substituiu temporariamente o coração, permitindo que este se esvaziasse e se desprendesse. De seguida, foi realizada uma osteotomia de costelas a Vanellope e para que se formasse uma proteção em torno do coração. No Reino Unido, nunca tinham sido realizados os dois procedimentos em simultâneo num doente com “ectopia cordis”.
A cirurgia inovadora decorreu durante nove horas e os resultados foram bastante positivos, superando as expectativas dos cirurgiões. “Pessoalmente acho que apenas fiz o meu trabalho, mas fiz a diferença para alguém e isso é muito satisfatório”, partilhou Ikenna Omeje. De acordo com os médicos, daqui a algumas semanas, quando Vanellope sair dos cuidados intensivos, já vai poder retirar a cinta protetora do peito e não vai necessitar de mais intervenções cirúrgicas no futuro.