Um grupo de jovens portugueses retidos num hotel em Arequipa deve permanecer no local pelo menos até segunda-feira, revelou Francisco Rodrigues dos Santos ao JN. O grupo comprou novos bilhetes de avião na esperança de que o aeroporto da segunda maior cidade peruana reabra até lá.
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"Corremos esse risco e tivemos de comprar o bilhete porque, se não comprássemos, outros podiam comprá-lo e poderia não haver voo até à passagem de ano", disse Francisco Rodrigues dos Santos. Só na região de Machu Picchu, 779 turistas de diferentes nacionalidades estão retidos, segundo a autarquia da cidade, citada pela agência France-Press. O trajeto de Arequipa para Lima, e da capital peruana para Madrid custou, no entanto, cerca de mil euros a mais aos portugueses.
A situação económica foi abordada nas conversas telefónicas individuais que o embaixador português em Lima teve com os retidos. De acordo com Francisco, o diplomata não garantiu uma ajuda financeira ou ainda um voo de regresso a Portugal, mas prometeu que está "a fazer todos os esforços" junto do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE).
Marcelo Rebelo de Sousa falou esta quinta-feira com o grupo de Arequipa, uma parte dos 40 portugueses retidos no Peru e confirmados pelo MNE, que refere a presença de nacionais também em Lima e em Aguas Calientes (Machu Picchu). "[O presidente da República] manifestou o seu sentimento de apoio, o desejo da nossa segurança e do nosso retorno à pátria o mais cedo possível", afirmou Francisco ao JN.
O chefe de Estado declarou ainda ao português que está em contacto com outros países da União Europeia que têm cidadãos na mesma situação. A procura de uma solução a nível europeu para agilizar o regresso dos retidos foi confirmada pela Presidência da República ao JN.
Os dez jovens (um grupo com sete, de Francisco Rodrigues dos Santos, e outro com três portuguesas) estão em Arequipa, cidade onde manifestantes invadiram o aeroporto e bloquearam a pista com pedaços de madeira, pedras e pneus queimados, a 12 de dezembro.
Os protestos favoráveis a Pedro Castillo e contrários ao novo Governo de Dina Boluarte, que era vice-presidente do chefe de Estado destituído, espalharam-se por todo o Peru, gerando bloqueios em estradas. A repressão já causou a morte de pelo menos sete pessoas.
Francisco, que foi à América do Sul com colegas para comemorar o fim do curso de Medicina na Universidade de Coimbra, testemunhou as manifestações no caminho para Arequipa. "Sentimos um pouco de medo, confesso, mas nunca sentimos perigo de vida", disse o português. O MNE publicou um comunicado esta quarta-feira que desaconselha deslocações terrestres no Peru, além de viagens não essenciais para o país.
Pedro Castillo foi detido após tentar fechar o Congresso a 7 de dezembro, dia em que a instituição votaria a destituição do governante. O ex-presidente, que continua sob custódia após um tribunal negar o recurso na terça-feira, afirmou não renunciar e classificou a sucessora como "usurpadora".
Em resposta aos protestos, Boluarte anunciou a antecipação em dois anos das eleições gerais, para abril de 2024. Na quarta-feira, o Governo peruano decretou o estado de emergência em todo o país durante um mês. "A Polícia Nacional, com o apoio das Forças Armadas, vai assegurar, através de todo o território nacional, o controlo da propriedade privada e, acima de tudo, das infraestruturas estratégicas e do bem-estar e segurança de todos os peruanos", anunciou o ministro da Defesa, Alberto Otárola.
A Argentina, a Bolívia, a Colômbia e o México declararam apoio a Castillo, o que fez Lima chamar, esta quinta-feira, os embaixadores peruanos nestes países para consultas. Na quarta-feira, uma porta-voz do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, expressou "muita preocupação pelos acontecimentos no Peru" e na preservação do Estado de Direito.