Primeira visita em 25 anos: Ministro sírio vai a Washington falar sobre suspensão de sanções
O chefe da diplomacia da Síria, Assaad al-Chaibani, desloca-se esta quita-feira a Washington, onde deverá abordar a suspensão das sanções contra o país, disse uma fonte do Ministério dos Negócios Estrangeiros em Damasco.
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Trata-se da primeira visita de um ministro dos Negócios Estrangeiros da Síria aos Estados Unidos em mais de 25 anos.
"O ministro desloca-se a Washington para discutir a suspensão das sanções ainda em vigor contra a Síria", disse a mesma fonte à agência de notícias France-Presse (AFP).
A visita ocorre um dia depois de a Síria ter anunciado que estava a trabalhar com os Estados Unidos num acordo de segurança com Israel.
Telavive exige a desmilitarização do sul da Síria, junto à fronteira com Israel.
A fonte do Ministério dos Negócios Estrangeiros sírio, que falou à AFP sob a condição de não ser identificada, disse que os acordos com Israel poderão ser concluídos até ao final do ano.
"Há progressos nas negociações com Israel. Haverá vários acordos antes do final do ano, em primeiro lugar acordos militares e de segurança", declarou.
Desde a tomada do poder em dezembro de 2024 por uma coligação islamista que derrubou o regime de Bashar al-Assad, os dois países iniciaram um diálogo.
O presidente interino, Ahmad al-Charaa, afirmou na semana passada que as negociações tinham como objetivo alcançar um acordo de segurança.
A mesma fonte acrescentou que os dois países querem, em primeiro lugar, chegar a "um acordo que ponha fim às ações militares na Síria".
Desde a queda de Bashar al-Assad, Israel realizou centenas de ataques contra posições militares na Síria.
O exército israelita entrou também na zona tampão desmilitarizada do Golã, junto à parte do planalto sírio ocupada por Israel, e efetua regularmente incursões no sul da Síria, onde mantém posições.
Um responsável militar em Damasco disse na terça-feira à AFP que o exército sírio retirou todo o armamento pesado do sul do país.
A iniciativa de um acordo insere-se num plano apoiado pelos Estados Unidos e pela Jordânia para estabilizar o sul da Síria após episódios de violência intercomunitária em julho na região drusa de Sueida.
"Os Estados Unidos, em consulta com o Governo sírio, vão trabalhar num acordo de segurança com Israel sobre o sul da Síria", disse o ministério sírio num comunicado na terça-feira.
Representantes dos dois países já se reuniram e uma nova ronda de negociações está prevista para sexta-feira em Bacu, a capital do Azerbaijão.
Sueida instável
Após um cessar-fogo que pôs fim a uma semana de confrontos em julho, a região de Sueida manteve-se instável: a cidade permanece sob controlo de combatentes drusos, enquanto os arredores continuam nas mãos das forças governamentais.
Os combates de julho opuseram drusos e beduínos sunitas, mas alargaram-se com a intervenção das forças governamentais e de tribos oriundas de outras regiões.
Damasco afirmou que as tropas tinham como missão pôr fim à violência.
No entanto, testemunhas, fações drusas e o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH) acusaram-nas de terem tomado partido pelos beduínos e de cometerem abusos contra os drusos.
A violência causou mais de dois mil mortos, segundo o OSDH.
O plano apresentado na terça-feira pelo ministro Assaad al-Chaibani inclui várias etapas, como a responsabilização dos autores de ataques contra civis, a indemnização das vítimas e um processo de reconciliação interna.
O plano prevê também "o esclarecimento do destino dos desaparecidos e a libertação dos reféns", disse Al-Chaibani.
O OSDH contabilizou 516 drusos raptados desde o início da violência a 14 de julho.