Trump "sabia das raparigas" de Epstein e "passou horas" com vítima, revelam novos emails

Trump, então magnata imobiliário, parece conhecer Epstein, um rico gestor de ativos, desde a década de 1990
Foto: Mathieu Lewis-Rolland/Getty Images via AFP
Os democratas divulgaram, esta quarta-feira, emails em que o milionário norte-americano Jeffrey Epstein sugere que o presidente dos EUA, Donald Trump, sabia mais sobre os abusos sexuais cometidos pelo empresário do que admitiu.
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Emails enviados para Ghislaine Maxwell, cúmplice de Epstein condenada por tráfico sexual de menores, e para o escritor e jornalista Michael Wolff incluem conversas nas quais Epstein, que se suicidou na cadeia quando aguardava julgamento por tráfico sexual, garante que Trump passou um tempo considerável com uma mulher que os democratas do Comité de Supervisão da Câmara dos Representantes descrevem como vítima de Epstein.
Os emails também incluem uma mensagem na qual Epstein afirma que Trump "sabia das raparigas", aparentemente em referência à alegação de Trump de que expulsou Epstein do seu clube em Mar-a-Lago por aliciar mulheres que lá trabalhavam, de acordo com a CNN.
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"Quero que percebas que aquele cão que não latiu é o Trump... [A vítima] passou horas na minha casa com ele e ele nunca foi mencionado. Chefe de polícia, etc. Estou 75% convencido", escreveu Epstein a Maxwell num email datado de 2 de abril de 2011. "Tenho pensado nisso", respondeu Ghislaine Maxwell.
Recentemente, Maxwell disse ao vice-procurador-geral Todd Blanche que "nunca presenciou o presidente em qualquer situação inadequada" e que não se lembrava de ter visto Trump na casa de Epstein.
Num outro email, de janeiro de 2019, durante o primeiro mandato de Trump e cerca de sete meses antes de Epstein cometer suicídio na prisão, Epstein escreveu a Michael Wolff para abordar a alegação de Trump de que este teria pedido a Epstein que renunciasse à sua filiação ao clube em Mar-a-Lago. "Trump disse que me pediu para renunciar", escreveu Epstein, acrescentando: "Nunca fui membro. É claro que ele sabia das raparigas, já que pediu a Ghislaine para parar."
BOMBSHELL: Emails released by @OversightDems show Epstein told Maxwell that Trump had "spent hours at my house," "knew about the girls," and that Trump was "that dog that hasn"t barked." To which Maxwell says "I have been thinking about that." pic.twitter.com/6KcXg3KG5a
- Jim Acosta (@Acosta) November 12, 2025
Na entrevista com Blanche, no início do ano, Maxwell negou ter recrutado mulheres em Mar-a-Lago.
Num terceiro email, Wolff escreveu a Epstein com o assunto "aviso" a 15 de dezembro de 2015, o dia de um debate das primárias republicanas transmitido pela CNN. "Ouvi dizer que a CNN planeia perguntar a Trump hoje à noite sobre o relacionamento dele contigo, seja ao vivo ou numa conferência de imprensa depois", escreveu Wolff. "Se conseguíssemos elaborar uma resposta para ele, qual achas que deveria ser?", respondeu o empresário.
"Acho que deverias deixá-lo enforcar-se sozinho. Se ele disser que não esteve no avião ou na casa, isso dar-lhe-á uma valiosa imagem pública e moeda política. Podes enforcá-lo de uma forma que potencialmente lhe traga um benefício positivo ou, se realmente parecer que pode vencer, podes salvá-lo, gerando uma dívida. Claro, é possível que, quando questionado, ele diga que Jeffrey é um tipo ótimo, que foi injustiçado e que é vítima do politicamente correto, algo que deve ser banido num governo Trump", continuou o escritor.
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Segundo os democratas da Comissão de Supervisão da Câmara dos Representantes, os emails "levantam sérias questões sobre Donald Trump e o seu conhecimento dos crimes horríveis de Epstein".
Amizade sob escrutínio
A relação de Trump com Epstein tem sido alvo de escrutínio numa altura que não se sabe se e quando o governo federal vai divulgar os arquivos sobre o falecido traficante sexual que morreu na prisão em 2019, enquanto aguardava julgamento. A polémica intensificou-se no início do ano, quando o Departamento de Justiça declarou que mantinha a conclusão de que Epstein tinha cometido suicídio e que não planeava fornecer mais informações sobre o caso.
Trump nega qualquer envolvimento ou conhecimento das atividades de tráfico sexual de Epstein (Foto: Andrew Harnik/AFP)
Ligação entre Trump e Epstein conhecida
A ligação entre os dois homens é pública há muito tempo. Trump, então magnata imobiliário, parece conhecer Epstein, um rico gestor de ativos, desde a década de 1990. Participaram em festas juntos, em 1992, no resort de Trump em Mar-a-Lago, na Florida. No mesmo ano, Epstein foi o único convidado de Trump para um concurso de "raparigas do calendário" que organizou, envolvendo mais de duas dezenas de jovens.
Trump chegou a voar no jato privado de Epstein pelo menos sete vezes durante a década de 1990, de acordo com os registos de voo apresentados em tribunal. Negou-o e, em 2024, disse que "nunca esteve no avião de Epstein". Em 1993, Trump terá apalpado a modelo de fatos de banho Stacey Williams depois de Epstein as ter apresentado na Trump Tower, alegação que o presidente também refutou.
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Desenho de mulher nua
Em julho deste ano, o "The Wall Street Journal" avançou que Trump tinha enviado uma carta a Epstein por ocasião do seu 50.º aniversário em 2003. A carta continha várias linhas de texto datilografado, contidas dentro do contorno de uma mulher nua, desenhada alegadamente pelo atual presidente com um marcador. A assinatura do republicano surge rabiscada abaixo da cintura da mulher, "imitando pelos púbicos". A carta conclui ainda com uma citação de Trump: "Feliz aniversário e que cada dia seja mais um segredo maravilhoso."
A notícia levou o atual presidente dos EUA a processar Rupert Murdoch, dois jornalistas e a editora do jornal, Dow Jones, por difamação e calúnia. No entanto, Trump nega qualquer envolvimento ou conhecimento das atividades de tráfico sexual do ex-amigo e não foi acusado de qualquer delito criminal.

