Um dia depois do início da guerra, Svitlana fugiu de Kiev com o marido e os dois gatos. Demoraram 19 horas para percorrer mil quilómetros. Agora, junto à fronteira com a Eslováquia, pede mais sanções internacionais contra a Rússia e apoio à Ucrânia.
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Svitlana Trukhachova, 35 anos, vive num apartamento a 20 quilómetros do centro da cidade de Kiev. Na fatídica quinta-feira em que a Rússia iniciou a ofensiva contra a Ucrânia, acordou às 6 horas para ir trabalhar, como de costume. Mas o sobressalto causado pelas explosões que ouviu ao longe, e que demorou a perceber serem mesmo explosões, mudar-lhe-iam os planos para esse dia e para os seguintes.
"Estava na varanda a tentar suster a respiração para me concentrar nos sons. Aconteceu várias vezes. Depois, abri a Internet e percebi...", relatou ao JN, três dias depois do início dos ataques que já mataram 352 civis, incluindo 14 crianças, de acordo com o último balanço do Governo ucraniano, e que levaram mais de 500 mil ucranianos a deixarem o país (dados da ONU).
Vimos três aviões de combate por cima das nossas cabeças
Como trabalham no centro, numa agência de vistos e serviços consulares, só a 300 metros do edifício presidencial, Svitlana e o marido, Dilma, optaram por ficar em casa nessa manhã. "Saímos à tarde e vimos três aviões de combate por cima das nossas cabeças, só a 50 metros de altura. Fomos para casa de uns familiares e passámos lá a noite. Dormimos na cave", conta a ucraniana, de "coração partido" por ver cercada por tanques militares a soberania do país onde nasceu.
No dia seguinte, sexta-feira, conseguiram fintar a escassez que assola os postos de combustível um pouco por todo o país e compraram 20 litros de gasóleo. Svitlana, Dilma, um amigo e dois gatos fizeram-se à estrada até à zona mais ocidental da Ucrânia, numa viagem de mil quilómetros que, por causa do trânsito intenso, lhes demorou 19 horas. Estão agora em Uzhgorod, uma cidade pequena junto à fronteira com a Eslováquia, e telefona várias vezes para os familiares que ficaram em Kiev. "Espero que fiquemos em segurança aqui", lamenta, apontando o dedo à "lavagem cerebral" de que diz estar a ser alvo o povo russo.
Embora milhares de manifestantes pró-Ucrânia tenham sido detidos em protestos na Rússia, Svitlana afirma que grande parte da população só consome noticiário dos órgãos de comunicação estatais e absorve como verdade a narrativa do Kremlin. "O meu marido tem alguns familiares na Rússia e tentou falar com eles, mas os cérebros deles sofreram uma lavagem tão grande pela televisão russa e não querem ouvir falar de nós, têm a certeza de que Putin está a proteger a Ucrânia dos neonazis."
Pede mais apoio internacional
"Não conseguimos lidar com isto sozinhos. O agressor, a Federação da Rússia, deve ser combatido a um nível internacional", reivindica, enumerando vários pontos possíveis de intervenção, como a retirada de todos os bancos russos dos sistemas internacionais de pagamento, o congelamento dos ativos russos, o encerramento do espaço aéreo a aviões russos, o embargo económico de todos os bens e recursos naturais russos, e a ajuda militar e humanitária à Ucrânia.
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