António Costa tentou esta sexta-feira dar por terminado o assunto Tancos, garantindo que "já disse tudo o que tinha a dizer ao doutor Rui Rio ontem" e incitando o líder do PSD a "voltar à campanha eleitoral, respondendo aos portugueses sobre o que é que ele pretende fazer nos próximos quatro anos".
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No final de um arruada na Rua de Santa Catarina, no Porto, António Costa voltou a dizer que "sobre esse assunto já disse tudo o que tinha a dizer há vários anos", quando respondeu a "todas as perguntas" que os deputados lhe quiseram fazer na Comissão Parlamentar de Inquérito a Tancos, que considera ter chegado a uma conclusão "inequívoca".
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"Já disse tudo o que tinha a dizer ao doutor Rui Rio ontem. Agora já conhecemos a acusação, agora é tempo de ouvir a defesa e depois deixar os tribunais decidirem. É assim que se respeita o Estado de direito. É assim que se respeita o tempo da Justiça", insistiu, rejeitando responder à pergunta se continua a ter confiança no seu ex-ministro Azeredo Lopes, constituído arguido neste processo.
"Não me compete fazer julgamentos"
"O tempo da política é o tempo de dizermos aos portugueses o que é que cada um pretende fazer nos próximos quatro anos e aquilo em que devemos continuar focados nesta campanha eleitoral. E assim cada um faz o seu trabalho: a Justiça trata da Justiça e os políticos tratam da política", disse, sem responder aos apelos que Rui Rio tem vindo a fazer para que esclareça se tinha ou não conhecimento do envolvimento do ex-ministro da Defesa no encobrimento da recuperação do armamento furtado em Tancos e preferindo focar-se nos números do desemprego divulgados hoje pelo INE.
"O que os portugueses querem saber é como é que nós vamos poder manter um ritmo de crescimento económico, continuar a criar emprego. Hoje o INE disse-nos que a taxa de desemprego já caiu para 6,2%, temos de continuar a responder às necessidades de melhoria dos salários, das pensões, das condições de vida", disse, insistindo que esses é que devem ser os temas da campanha eleitoral.
"Isso é o que está na ordem do dia da campanha eleitoral, o resto está na ordem do dia dos tribunais. Não me compete a mim fazer julgamentos", insistiu.
Pardal Henriques e os lesados do BES
Na arruada de Santa Catarina, onde esteve acompanhado por vários membros da lista de candidatos a deputados pelo Porto e por autarcas e dirigentes locais do PS, foi praticamente impossível a António Costa conseguir o contacto direto com a população, dado o grande aparato policial. Um pequeno grupo de lesados do papel comercial do BES esperava-o numa das esquinas, acompanhados pelo ex-advogado dos sindicato dos motoristas de matérias perigosas e agora candidato pelo PDR pelo círculo de Lisboa. Pardal Henriques disse ter sido desafiado a apoiar a "causa dos lesados do BES" e estar a acompanhá-los, defendendo que o também primeiro-ministro os deveria ouvir.
Apesar dos apitos e dos gritos de protesto, os jovens da Juventude Socialista trataram que Costa passasse ao lado do protesto e seguisse caminho rua acima, em ambiente de festa. Para trás ficou Ana Leoldina, uma guia intérprete de 48 anos, que, apesar de não ser apoiante deste Governo, não quis deixar de ver de perto o primeiro-ministro, "Queria perguntar-lhe porque é que os recibos verdes pagam tantos impostos", disse, garantindo que há cada vez mais pessoas a fazerem o trabalho de guias turísticos, sem pagarem impostos e sem formação específica e criticando o Governo do PS por "beneficiar demasiado a Função Pública e esquecer as outras pessoas".
A questão das baixas reformas voltou a atravessar-se no caminho de António Costa. Rosa Costa, 63 anos, doente oncológica, abordou o secretário-geral do PS para dizer que é uma "vergonha" que alguém possa receber 370 euros de pensão, como disse ser seu o seu caso. E garante que o primeiro-ministro lhe disse que o seu objetivo é, até ao final da próxima legislatura, que as pensões possam chegar aos 500 euros. "Espero que cumpra o que está a dizer", rematou a mulher.