Há fome, miséria, desemprego, dívidas e falta de esperança entre empresários e trabalhadores do setor da restauração, discotecas e eventos que esta quarta-feira se concentraram junto ao Parlamento. Sexta-feira são recebidos pelo presidente da República. Pedem para os deixar trabalhar e viver.
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"Quantas pessoas perderam emprego desde que nos manifestamos pela primeira vez? Já é a nona vez", frisou Ljubomir Stanisic. "Sou cidadão português e o meu direito nesta altura é gritar!"
Centenas juntaram-se no largo frente à Assembleia da República, vindos de Norte a Sul. Exigem, entre outras medidas, a reposição dos horários de funcionamento, apoios a fundo perdido para a manutenção de postos de trabalho, linhas de crédito, isenção da Taxa Social Única (TSU), redução do IVA, apoio de pagamento de rendas na proporção de quebras de faturação e anulação de multas por pagamentos em atraso ao Estado.
Alberto Cabral, proprietário de discotecas, entra esta quarta-feira em greve de fome. Depois da manifestação já não regressa a Vila Real. Está na "miséria", já sem dinheiro sequer para deslocações. "Na próxima semana tenho de pagar salários e subsídio de Natal e não tenho dinheiro", confessa.
No último trimestre de 2019 o setor da restauração produziu dois mil milhões de euros. Este ano, no período homólogo, prevê o presidente da associação Pro.Var, Daniel Serra, a quebra é de 70%, menos 1400 milhoes.
"O que pedimos é que o Governo nos atribua 20% dessa quebra - 280 milhões de euros" para travar encerramentos e despedimentos que podem atingir em janeiro, 100 mil pessoas e custar ao Estado 800 milhões em subsídio por ano. Pedimos que nos ajudem agora para que possamos retribuir no futuro. Devolveremos até ao último tostão", garante.
"Se há dinheiro para a TAP ou para o Novo Banco tem de haver para este setor que sempre foi uma alavanca da economia", insiste.
Tiago Carvalho proprietário do Leão Restaurante do Minho, em Braga, ainda não despediu nenhum funcionário. Reduziu horários e salários. "Não consigo. A proximidade entre proprietário e funcionários na restauração é muito grande. Comemos todos à mesma mesa".
As medidas criadas pelo Governo são uma "ilusão", não chegam à maioria porque exclui quem tem capitais negativos, dívidas à segurança social e fisco e empresários em nome individual e é "uma migalha", porque se baseia na faturação de 2020 em vez de 2019.
Paula Santos, proprietária da Casa do Tacho do Bessa, na Boavista, despediu três funcionários, permanece além dela, o marido e contam com a ajuda dos dois filhos. É uma das que não tem direito ao programa Apoiar, criado pelo Governo, por ser empresária em nome individual.
No palco, houve quem garantisse que já viu amigos suicidarem-se, quem não tenha dinheiro para pagar pensão de alimentos dos filhos. "Vocês estão a matar quem quer trabalhar", gritaram repetidamente. Houve quem pedisse a demissão de António Costa e o avisasse que a pandemia não pode matar a economia.