A petição, lançada há poucos dias, pede o fim do projeto Maia nas escolas e já recolheu mais de 9300 assinaturas. O modelo, que é aplicado desde 2019, prevê a recolha de múltiplos parâmetros de avaliação em grelhas. Docentes criticam o excesso de burocracia e defendem que programa promove o "facilitismo".
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Às 11 e 30 horas desta segunda-feira a petição tinha 9333 assinaturas. Ou seja, um número superior às 7500 necessárias para ser debatida em plenário da Assembleia da República.
A petição foi lançada por uma professora de Matemática, do 3º ciclo e Secundário de Viseu. Dália Aparício começa por defender, num testemunho enviado ao JN, que o projeto Maia "é causa de muito desânimo, excesso de trabalho e de burocracia nas escolas".
"É um projeto que impõe uma metodologia de avaliação que se caracteriza por um número excessivo de avaliações parcelares. Este método de avaliação implica a elaboração de grelhas de observação e de avaliação extremamente extensas e complexas. O professor tem de estar sistematicamente a avaliar e fazer registos de avaliação. As grelhas de avaliação de final de período são tão extensas que chegam a ocupar 2 a 3 páginas A4 (na horizontal!)", descreve.
Nas já 39 páginas de comentários à petição são muitos os que concordam que o projeto peca pelo excesso de burocracia e por limitar a autonomia pedagógica dos professores.
Ora, o excesso de burocracia é precisamente um dos problemas mais contestados pelos professores e que está em cima da mesa negocial entre ministro e sindicatos, estando organizações e tutela a fazer uma recolha das tarefas que podem ser eliminadas para melhorar as condições de trabalho dos docentes.
Dália Aparício garante que apesar das escolas aderirem voluntariamente ao projeto, a maioria dos docentes não foram ouvidos antecipadamente pelo que aplicam o modelo "sem acreditar nele".
"É um projeto que quando aplicado inflaciona o sucesso e diminui o número de retenções, mas não melhora a aprendizagem dos alunos. Apenas encobre o insucesso e as grandes dificuldades de aprendizagem. No fundo, promove o facilitismo. Mas para as direções das escolas, para o Ministério, para os inspetores e também, infelizmente, para alunos e alguns pais, isso traz "felicidade", considera a professora.
A esmagadora maioria dos subscritores que comentaram a petição também criticam o excesso de burocracia que impõe uma maior carga de trabalho.
"Para além de multiplicar o trabalho burocrático constitui um desinvestimento nas aprendizagens efetivas dos alunos. O foco do professor passa a estar na recolha de evidências e não na promoção do ensino aprendizagem. Camuflado com flexibilidade, inclusão e diversificação, apenas se consegue baixar os níveis de exigência e falsear uma aparente melhoria nos resultados estatísticos - praticamente não há insucesso. Será real? Perde-se objetividade na avaliação", comenta um dos docentes.
O Maia foi coordenado pelo atual presidente do Conselho Nacional de Educação, Domingos Fernandes. As escolas aderiam voluntariamente ao programa. O JN questionou o ME sobre os níveis de adesão e avaliação do programa e aguarda respostas.
Contra-petição
No fim de semana também foi lançada outra petição que defende "formação para quem lançou a petição fim do projeto Maia". A iniciativa foi, no entanto, encerrada quando tinha 87 assinaturas.
"Existe um grande número de docentes que parece não conhecer os normativos e os documentos estruturantes do sistema educativo português. Parecem também não conhecer as preocupações transnacionais que existem há décadas no que diz respeito à Educação, em particular, no que concerne à avaliação pedagógica", lê-se no texto da petição, que acusa quem defende o fim do projeto de Maia de "total desconhecimento" dos seus fundamentos. Pelo que pediam a criação de "turmas extra de formação no âmbito do Maia".
Esta segunda petição já se encontra "encerrada". A docente que a lançou, garante não pertencer à equipa central do projeto e explica que a ação pretendia ser "um alerta" contra subscrições irrefletidas.