A pandemia vai impedir a reunião de muitas famílias, situação que terá contornos mais graves em contexto rural. A GNR tem 42 mil casos sinalizados de idosos a viverem sozinhos. Distritos de Vila Real e Guarda destacam-se no topo da lista.
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Entre os mais velhos, o isolamento que já existia agudizou-se com a pandemia e prevê-se que, com a quadra natalícia, a fatia da população mais envelhecida sinta ainda mais essa solidão, já que muitos vão ter a mesa da consoada despida daqueles que lhes são mais queridos.
"Parece-me evidente que vai haver um particular isolamento relativamente àqueles idosos cuja família reside fora do concelho onde eles habitam", observa José Rio Fernandes, geógrafo e professor catedrático da Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
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Em Portugal, estão sinalizados pela GNR mais de 42 mil idosos que vivem sozinhos ou isolados. Os distritos que concentram um maior número de casos são Vila Real, com cinco mil idosos sinalizados, e Guarda, com 4585. Os dados foram atualizados em outubro passado.
Apesar do fenómeno ganhar maiores dimensões em concelhos do interior, também se sente nas grandes cidades. Cada vez há mais idosos a viver sozinhos, que se apoiam em instituições de solidariedade e serviços sociais. O objetivo das equipas de apoio domiciliário é levar alguma alegria à população mais envelhecida para combater a solidão dos dias.
José Rio Fernandes enumera três cenários onde esta solidão poderá ser mais sentida: idosos institucionalizados, que não podem ter contactos com familiares; aqueles que vivem em aldeias afastadas dos espaços urbanos; e situações em que os filhos e netos não podem deslocar-se como habitualmente a casa dos pais ou dos avós.
País envelhecido
"Vai ser um Natal diferente e um pouco mais triste. Até porque, antes da pandemia, o Natal era uma das ocasiões quase obrigatórias do encontro da família. No quadro da covid-19, e em contexto rural, onde será mais frequente residirem longe dos filhos, em muitas situações os idosos vão estar desfavorecidos relativamente ao contexto urbano", nota o geógrafo.
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Para travar esta realidade, o sociólogo João Teixeira Lopes alerta para a necessidade de se adotar um novo paradigma nos lares, "a desinstitucionalização com a criação de uma rede de cuidadores informais dignificados" e alternativas de habitação como o "cohousing" (habitação partilhada).
"Todo o país tem vindo a envelhecer muito rapidamente. Pode ser considerado um país com uma população envelhecida, com percentagens elevadas de pessoas com mais de 65 anos", acrescenta Rio Fernandes, indicando Alcoutim, no Algarve, como um dos concelhos mais envelhecidos. Mas o fenómeno também chega a municípios como Porto e Lisboa.
João Teixeira Lopes lamenta ainda a "perda de valor simbólico" dos idosos, perante uma sociedade "que valoriza, acima de tudo, a inovação, a velocidade e a juventude".
Programas de apoio
Pulseiras
O "Estou Aqui Adultos", da PSP e da Santa Casa da Misericórdia, dá uma pulseira aos idosos que ajuda a identificá-los caso se percam.
"Pedalar sem idade"
Iniciativa do Porto leva idosos a passear numa bicicleta elétrica. O programa conta com o apoio das juntas do Bonfim e de Paranhos.
Visita da GNR
Para a noite da ceia de Natal, a GNR preparou um conjunto de visitas a idosos isolados para os ajudarem a contactar as suas famílias.
Teleassistência
A GNR da Guarda e de Aguiar da Beira ajuda idosos com o projeto de teleassistência "Eguard" com recurso a um botão de socorro.
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