Militares que não embarcaram no NRP Mondego começam a ser substituídos quinta-feira
Gouveia e Melo não quis falar sobre o estado do navio e vai esta quinta-feira ao Funchal. Os marinheiros que não embarcaram serão substituídos de "forma gradual", esta quinta-feira e sexta-feira.
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Na primeira reação pública após a polémica do NRP Mondego, Gouveia e Melo afirmou esta quarta-feira que a "disciplina é a cola essencial das Forças Armadas". O chefe do Estado-Maior da Armada estará esta quinta-feira na Madeira para se inteirar da situação dos 13 militares que não embarcaram na missão de acompanhamento de um navio russo, denunciando falta de condições de segurança no navio. Esta quinta e sexta-feira começam a ser substituídos de "forma faseada" os quatro sargentos e nove praças, que continuam retidos na embarcação.
"O processo de substituição dos militares acontece de forma faseada na quinta e sexta-feira", adiantou o porta-voz da Marinha, José Sousa Luís. Gouveia e Melo referiu, esta quarta-feira em Vila Real, que falará esta quinta-feira com a guarnição, antes de adiantar mais detalhes sobre o tema.
"No dia em que formos indisciplinados, em que não acreditarmos na linha de comando e em que esta é subvertida, nós ficamos sem Forças Armadas", disse o chefe do Estado-Maior da Armada, recusando responder a questões sobre as deficiências do barco. A Marinha ordenou, na quarta-feira, uma inspeção ao navio, instaurou um processo disciplinar aos 13 militares e comunicou o caso à Polícia Judiciária Militar. "Privilegiamos resultados rápidos, mas têm de ser seguros".
Ajuda de rebocador
Os marinheiros, que não embarcaram no passado sábado no NRP Mondego, alegaram não haver condições de segurança suficientes no navio para efetuar a missão. Um motor e um gerador de energia elétrica não estariam a funcionar. A Marinha, apesar de reconhecer as "limitações", defendeu que a maior parte dos equipamentos é "redundante".
A 9 de março, uns dias antes da recusa dos marinheiros, um rebocador acompanhou o NRP Mondego na atracagem na ilha da Madeira. "O navio estava à beira das Selvagens e tinha uma avaria numa máquina, que já está solucionada. Para atracar, só com uma máquina a funcionar é mais limitativo", explicou o comandante José Sousa Luís, porta-voz da Marinha. Por "não ter a mesma capacidade de manobra, o rebocador estava a acompanhar o navio para ajudá-lo a atracar", mas não foi necessário.
As associações militares têm alertado para a falta de efetivos e de manutenção dos equipamentos militares e pedem à Marinha que não castigue a atitude de "coragem" dos 13 militares.
O presidente da República escusou-se esta quarta-feira a comentar a atitude do grupo da guarnição e a possível fragilidade de Gouveia e Melo, após a polémica. "Neste momento, decorrem as investigações e, na parte disciplinar, terão de ser ouvidos todos os militares que estiveram envolvidos e isso não acontecerá nos próximos dias. Esperemos pela tramitação normal do processo", apontou.
Em Espanha, António Costa salientou que as "Forças Armadas estão à altura de desempenharem qualquer missão" e acrescentou que é a Gouveia e Melo que "cumpre assegurar a disciplina" nas forças sobre o seu comando. O Governo aprovou, esta quarta-feira, a despesa de 39 milhões para a manutenção de navios da Marinha.
Situação na Madeira foi "grito de alerta"
A Associação Nacional de Sargentos (ANS) e Associação de Praças (AP) dizem esperar que a Marinha não castigue severamente os militares que não embarcaram no NRP Mondego, uma vez que mostraram "uma atitude de coragem" e deram "um grito de alerta" dos problemas existentes.
"Dignidade não é um crime", defendeu o sargento-mor António Lima Coelho, presidente da ANS. A "decisão que tomaram não foi feita de ânimo leve, foi refletida e ponderada", acrescentou ao JN.
Segundo o documento escrito pelos 13 militares, o próprio comandante do navio terá dito ao grupo que não se sentia confortável com as limitações técnicas do navio. Mas, à CNN, disse que tinha condições para navegar. "Tive 50% da guarnição do meu lado e outros 50% que não quiseram cumprir as minhas ordens", disse o comandante do NRP Mondego, Vasco Lopes Pires.
Para o cabo-mor Paulo Amaral, presidente da AP, é "evidente a crise de material, manutenção e recursos humanos" nas Forças Armadas.