Há orientações europeias para começar mamografias aos 45 e prolongá-las até aos 75 anos. São mais 713 mil mulheres elegíveis. Ministério diz que norma da DGS será atualizada em breve.
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A idade para as mulheres serem chamadas para o rastreio de base populacional do cancro da mama deverá ser alterada em breve. A Comissão Europeia recomendou recentemente que as mamografias de rastreio - atualmente realizadas, a cada dois anos, entre os 50 e os 69 anos - comecem aos 45 e se prolonguem até aos 75 anos. Ao JN, o Ministério da Saúde admitiu que haverá mudanças muito em breve, de acordo com a melhor evidência científica. Domingo, assinala-se o Dia Nacional de Prevenção do Cancro da Mama.
Todos os anos são diagnosticados seis mil novos casos de cancro da mama e a perceção dos especialistas é de que surgem cada vez mais em idades extremas. Por isso, a necessidade de se adaptarem as faixas etárias abrangidas pelos rastreios realizados às mulheres assintomáticas.
Mas também é importante tornar mais claras as recomendações para os médicos de família que seguem mulheres que estão fora destas idades, mas apresentam fatores de risco, explicou, ao JN, o presidente da Sociedade Portuguesa de Senologia.
Segundo José Carlos Marques, há especialistas que não prescrevem mamografias acima dos 70 anos e, consequentemente, estão a ser diagnosticados tardiamente e já em fase avançada muitos cancros da mama em septuagenárias.
Norma é de 2011
As alterações passam pela revisão de uma norma de orientação clínica da Direção-Geral da Saúde, que data de 2011. A revisão está em curso e "será atualizada, o mais brevemente possível, de acordo com a melhor evidência científica", salientou o Ministério da Saúde, em resposta ao JN. Este processo, que está a ser conduzido por peritos nomeados pela Ordem dos Médicos e pela Direção-Geral da Saúde, inclui também as indicações relativas aos rastreios, acrescentou a tutela, sem especificar quais as faixas etárias a abranger.
Ressonância magnética
As novas linhas de orientação europeias indicam que a realização das mamografias de rastreio a mulheres assintomáticas com 45-49 anos e com 70-75 anos tem um custo benefício. E recomendam também a realização de ressonâncias magnéticas a mulheres com padrão de densidade mamária muito alto, e portanto com menor sensibilidade à mamografia.
Nações como a Inglaterra e os Países Baixos já estão a avançar com os rastreios acima dos 70 anos, a idade que reúne mais consenso na comunidade científica, adiantou José Carlos Marques, também responsável pela Unidade de Radiologia Mamária do IPO de Lisboa.
Por cá, "o alargamento do rastreio está a ser discutido do ponto de vista técnico. O fundamental é chegarmos a um consenso", referiu o presidente da Sociedade Portuguesa de Senologia, que organizou um congresso, ontem e anteontem, no Estoril, com o mote "Cancro da mama em idades extremas".
Se Portugal vier a seguir as orientações europeias, haverá mais cerca de 713 mil mulheres elegíveis para o rastreio, de acordo com dados provisórios de 2021 do Instituto Nacional de Estatística. Os rastreios de base populacional são realizados em todo o país pela Liga Portuguesa contra o Cancro, com exceção do Algarve onde são feitos pela Associação Oncológica do Algarve.
Espera média entre o diagnóstico e o início dos tratamentos é de 58 dias
Espera para a primeira consulta, espera para realização de biópsia e mais espera por resultados; espera pela segunda consulta, espera para realização de exames complementares para perceber em que estado está o cancro e mais espera por resultados; terceira consulta para proposta de tratamento e mais uns dias de espera para início da terapêutica. O tempo entre o diagnóstico de cancro da mama e o início do tratamento pode ser um calvário e é, frequentemente, um fator decisivo para muitas mulheres recorrerem ao setor privado. Em média são quase dois meses (58 dias), mas pode chegar a 180 dias, segundo um estudo da Universidade Católica, divulgado esta semana. Os especialistas alertam para a necessidade de encurtar estes tempos, de forma a obter melhores resultados em saúde. Uma das propostas, apresentada pelo coordenador do estudo e também presidente do colégio de especialidade de Oncologia Médica da Ordem dos Médicos, é a criação de uma via verde para a realização de exames nas doentes com cancro da mama.