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O mundo é uma loja de horrores, mas na maioria das vezes sem o tino musical de Frank Oz ou o pingo de humor denegrido de Roger Corman, que exaltaram no cinema "Little shop of horrors" (1986 e 1969, respetivamente). Dia sim, dia sim, o mundo é o escorredouro da banalidade do Mal - e o Mal não é ontológico, não é natureza, não é metafísica; o Mal é político, é histórico, é produzido por homens e mulheres.
Moita: mãe de 51 anos mata filho de 20 anos à facada. Várias facadas. Foi na terça-feira, já tarde na noite, os dois viviam juntos, os vizinhos não recordam nada de mal até aí mas às 23 horas ouviram uma discussão a estalar. Depois ouviram gritos, os gritos cresceram, estouraram e depois não ouviram mais nada, só ouviram um silêncio de morte. A mãe tinha desferido vários golpes no peito e no pescoço do filho com uma longa faca de cozinha. Foi em Vale da Amoreira, na Moita. A suspeita foi detida em flagrante delito pela PSP por homicídio qualificado.
Setúbal: mãe foi detida por deixar Jéssica morrer. Jéssica era usada para transportar droga na fralda. Família que raptou Jéssica é acusada de violação. Mãe entregou três vezes Jéssica aos agressores e a última foi fatal. São quatro notícias mas a protagonista é a mesma, e o horror não pára de crescer: no espaço de um mês, Inês Sanches, mãe de Jéssica, a menina de três anos de Setúbal espancada e torturada até à morte, entregou a menina por três vezes à família dos alegados agressores. Para quê? A filha era a garantia do pagamento de uma dívida por atos de bruxaria. Comece a ler aqui
Lisboa: avô de 71 anos passou uma década a abusar sexualmente de quatro netas. As meninas tinham entre 5 e 11 anos. Os abusos ocorreram entre 2011 e 2021. Pode ser pior: suspeita-se que o homem pode ter cometido ainda mais crimes e haja ainda mais vítimas da sua predação sexual. O homem foi detido esta quarta-feira pela PJ. Está em prisão preventiva.
Fafe: mulher de 37 anos quis matar à facada companheiro de 62 anos. Não houve homicídio, só tentativa de matar. O homem barricou-se num anexo até chegar a GNR. A mulher foi detida.
Penafiel. Última hora: três encarcerados em acidente na A4. São duas mulheres e uma adolescente de 13 anos. O carro tinha avariado, enquanto esperavam pelo reboque foram abalroadas. Foi no sentido Porto-Amarante. Ninguém se feriu com gravidade.
O resto da atualidade a esta hora
Ucrânia: Volodymyr Zelensky já aterrou em Washington e já foi recebido na Casa Branca.
Rússia: Vladimir Putin ameaça e promete continuar a desenvolver o seu potencial militar para atacar a Ucrânia
Loures: Câmara vai atribuir vouchers até 2500 euros às famílias afetadas pelas cheias e também vai dar dar apoios às empresas com prejuízos até 50 mil euros.
Braga: Câmara trava negócio da Igreja com antena de telecomunicações.
Universidades: Agência do Ensino Superior alerta que há um número "excessivo" de cursos em Portugal.
Covid: o tormento está longe de acabar. Agora a OMS alerta para os riscos futuros daquilo que ainda desconhecemos do coronavírus.
Morreu Mike Hodges, realizador de "Flash Gordon". Morreu o ator brasileiro Pedro Paulo Rangel. Morreu Martin Duffy, o teclista da banda de indie pop Felt.
Mas como nunca ouviu falar dos Felt?
Esta última é uma morte descoroçoante: Martin Duffy tinha 55 anos, caiu dentro de casa, em Birmingham, bateu com a cabeça, as lesões na cabeça foram fatais. Morreu na terça-feira.
Era um músico especial. Foi teclista dos Felt aos 18 anos, entrou para a banda em 1985, no disco "Ignite the seven canons and set sail for the sun", esse mesmo que tem o single do século ("Primitive painters"). Nunca ouviu falar dos Felt? Então está a perder o mais bonito projeto da poético pop da década de 1980, começou ainda antes de haver The Smiths, que só apareceram em 1982. Os Felt são a banda que Lawrence (um só nome) criou para existir só dez anos, editar dez álbuns e dez EP e depois morrer. (nota para os millennials: um EP é um "Extended Play" em vinil, tem normalmente mais do que duas canções e menos do que seis; um LP é um "Long Play", é um álbum; um single é um single)
Martin Duffy entrou com o seu órgão hammond a meio do caminho, em 1985, o órgão é serpenteante. É a cara dele que está na capa do disco, belo, belo disco de 1986, "Forever breathes the lonely word". Depois dos Felt, Martin Duffy juntou-se aos Primal Scream em 1991, tocou em todos os discos da banda de Bobby Gilespie, logo desde o primeiro, o incrível "Screamadélica", e depois ainda fez parte dos The Charlatans em 1996.
Vamos já fechar. Só mais isto: já votou nas figuras nacionais e estrangeiras mais marcantes de 2022? O JN mantém aberta a urna. Vote, o prazo acaba sexta-feira.
E se não nos virmos antes, boas festas, bom Natal, tudo de bom. E não perca a esperança no Mundo.