Vladimir Putin perde a palavra todos os dias - esta quarta-feira outra vez, ao bombardear a maternidade em Mariupol -, perdeu a aposta de tomar a capital da Ucrânia em duas semanas - seria esta quarta-feira, se a profecia se cumprisse -, mas poderá ainda arrasar Kiev no final desta semana. Zelensky pergunta: "Até quando o mundo será cúmplice por ignorar este terror?" E implora: "Fechem o espaço aéreo".
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Não é a primeira vez que Putin, o cego presidente da Rússia, quebra as regras de um cessar-fogo cronometrado para retirar população das cidades ucranianas através de corredores humanitários. Aconteceu esta quarta-feira, outra vez. Das cinco passagens que supostamente não seriam atacadas entre as sete horas da manhã e as sete horas da tarde, houve retirada de civis em Sumy, em Enerhodar e em Kiev, mas não em Kharkiv.
E na cidade de Mariupol, onde já terão morrido 1170 civis desde 24 de fevereiro, o que fez o exército russo? Bombardeou ali mesmo um hospital pediátrico. Pelo menos 17 pessoas ficaram feridas, algumas são mulheres em trabalho de parto.
"Vocês têm o poder mas começam a perder a humanidade", grita Volodimir Zelensky, em sucessivas tentativas para comover e convencer a NATO a fechar o espaço aéreo. Mas fechá-lo é mais complexo do que parece. "Fechar os céus significaria que os países europeus e os americanos teriam de abater as aeronaves russas. Significaria a guerra total, quando do outro lado está uma potência nuclear e um grupo de sádicos."
Ainda assim, o jovem presidente da Ucrânia não desiste: "Que atrocidade! Há crianças por baixo dos destroços. Parem já com estas mortes", pede repetidamente enquanto mostra, em vídeo, o que sobrou do ataque.
Zelensky não está sozinho, nem na luta nem na indignação. "A invasão russa representa o fracasso absoluto do ser humano e das instituições politicas", disse Pep Guardiola, técnico do Manchester City que hoje enfrenta o Sporting. "O mundo está quieto, continua calado. Não as pessoas, mas os governos de todo o mundo, que deveriam tomar decisões e dizer que isto não pode acontecer e deixam que aconteça." E pergunta: "Onde está a NATO, onde estão os Estados Unidos da América, onde está a União Europeia?"
Ao 14º dia de guerra, o balanço avançado pela ONU aponta para 516 civis mortos na Ucrânia, dos quais 41 são crianças. Os números, admite a própria Organização das Nações Unidas, estão longe de corresponder à verdade. A realidade é muito mais negra. E inclui mais de 2,1 milhões de pessoas em fuga, o mais rápido êxiodo na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.
Somam-se sanções e as retaliações à Rússia: os EUA proibiram a importação de gás, petróleo e carvão russos (a Europa resiste a cortar), a Philip Morris, como tantas outras empresas em boicote, suspendeu os investimentos no país invasor.
A Rússia responde à maneira da Rússia: diz que os EUA lhe declararam uma "guerra económica" e prepara-se para nacionalizar as empresas estrangeiras que escolheram abandonar o país. Mais grave, os especialistas defendem que o fortíssimo contingente russo deverá entrar em Kiev durante o fim de semana. Faltam três ou quatro dias. Mais ou menos os mesmos que faltam para, em Portugal, o combustível voltar a subir.