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Entramos no novo ano com as dinâmicas herdadas com o fim do ciclo das festas. Dois ou três factos acabam por condicionar essas mesmas dinâmicas, como aliás o discurso do presidente da República deixou transparecer.
Sem novidade continuam a existir questões da justiça a interferir com a política. A pouco tempo do início da campanha eleitoral, que vai decidir quem será o próximo primeiro-ministro de Portugal, o líder do PSD vê-se arrastado para mais uma investigação a propósito de umas obras na sua casa. Esteve bem Luís Montenegro ao procurar evidenciar tranquilidade neste processo. Afinal, hoje, concorrer a um cargo político pode significar ser suspeito num qualquer processo de investigação. A ver vamos se as eleições serão condicionadas.
Como já não se via há muito tempo, o Sporting acaba esta fase da Liga em primeiro lugar enquanto os seus mais diretos rivais evidenciam sinais contraditórios. O Benfica a tentar justificar o valor do seu plantel e o F. C. Porto a prescindir de jogadores que se pensava serem importantes reforços. Outra dinâmica importante para se manter o povo ocupado.
Na política internacional, os conflitos continuam sem uma solução à vista. Putin deixa uma mensagem de Ano Novo preocupante pela falta de senso e o primeiro-ministro israelita ameaça continuar o combate ao Hamas e a eternizar o conflito.
Entretanto, desapareceram do nosso convívio dois homens que foram europeístas convictos, à sua maneira, Jacques Delors e Wolfgang Schauble. Ambos não queriam uma Europa a duas velocidades. Só que tiveram atitudes na abordagem diferentes. Delors fica ligado a uma das páginas mais importantes da União Europeia, a criação do euro. Schauble, pelo contrário, foi para salvar o euro que ficou ligado a um momento infeliz na União, aquando da crise das dívidas soberanas, afirmando as políticas de austeridade.
O ano de 2024 deve preparar o embate para as eleições em Portugal, nos Açores e na Europa e os seus resultados podem ser prenúncio de um novo tempo político. As forças mais críticas dos processos democráticos vão continuar a crescer não só porque acabam por representar a insatisfação dos eleitores, mas também porque assumem um discurso negativo e de rutura perante as instituições.
No plano internacional, a eleição presidencial nos Estados Unidos reflete a crise do seu sistema político e a falta de renovação geracional dos seus candidatos.
Como salientou o presidente da República, “2024 será ainda mais decisivo do que 2023”. Quando nos preparamos para comemorar os 50 anos de Abril, fica o apelo cívico de que sem “voto não há liberdade nem democracia”. Resta saber se temos dirigentes à altura dos próximos desafios. A palavra agora é do povo.