De 1974 a 2022 vão exatamente 48 anos. Curiosamente o mesmo tempo que mediou entre 1926 e 1974.
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Essas semelhanças de datas entre dois regimes tão distantes e diferentes entre si: um de sentido democrático e outro de pendor autocrático.
Contudo, não será para falar do regime do Estado Novo que aqui estamos. Antes para chegarmos a uma avaliação conjunta de que tal como no regime de Salazar e de Marcelo se deixou cair num impasse, por causa da guerra colonial e da abertura democrática, o atual regime democrático está perigosamente em situação idêntica por não fazer as reformas que parecem ser necessárias.
Em 25 de abril de 1974 o regime caiu como um baralho de cartas porque a obsessão pelas colónias, a consequente integridade e a guerra do Ultramar o arrastaram para tal. Recusando as reformas urgentes, fugindo da abertura democrática e esquecendo a Europa e os ventos da história, o regime não compreendeu que o Mundo estava a mudar.
Hoje vivendo num regime livre e plural continuamos a esquecer a necessidade de fazer reformas e de acelerar a criação de riqueza. Foi isso mesmo, que o antigo primeiro-ministro e presidente da República Aníbal Cavaco Silva veio dizer, num recente e certeiro artigo de opinião, quando desafiava o atual chefe de Governo a fazer mais e melhor do que ele tinha conseguido. Disse, e por isso foi contestado, o que deve ser o novo estilo de oposição do PSD.
Estamos num pântano que se aparenta mover porque existem fundos comunitários e um PRR, uma guerra que nos preocupa e uma pandemia que tarda a desaparecer.
Alguns dizem que vivemos numa forma de mexicanização onde a hegemonia do Partido Socialista tudo assegura e vai satisfazendo. Vendo a Esquerda a definhar e a Direita, como um aliado conjuntural, elege o Chega.
Ora aqui está a grande reforma que a liderança de Luís Montenegro terá de fazer pelo PSD. Tenho defendido que o problema do PSD não é conjuntural, isto é de um líder, mas sim estrutural na forma como tenta atrair os portugueses. Será nesse domínio que Luís Montenegro tem de mostrar ser diferente.?Conseguir falar com a sociedade civil e fazer diferente apostando em ser uma real alternativa de poder.
Os eleitores não podem nem devem ser subestimados. Não pensem, pois, que o povo não está atento aos dirigentes quando confundem o seu interesse pessoal com o interesse nacional.
Vale, para todos nós, que nestes 48 anos vivemos em democracia o que é uma vantagem. O voto ainda é sempre uma arma do povo porque, como dizia o cardeal Mazarin, "na política a constância consiste, não em fazer sempre a mesma coisa, mas em querer sempre a mesma coisa".
* Professor universitário de Ciência Política