"Uma aliança precisa de um cavalo e de um cavaleiro." Bismarck
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Desde o Tratado de Tagilde, firmado a 10 de julho de 1372, cujo acordo consubstancia o seu primeiro fundamento jurídico, a Aliança entre Portugal e a Inglaterra viveu sempre tempos conturbados. Umas vezes plenos de cooperação outras de imposição do poderio inglês.
Na ligação da mais velha Aliança entre estados, Portugal e o Reino Unido estiveram sempre em alternâncias de relacionamento. Assim foi em Windsor, no casamento de Carlos II com Catarina de Bragança, no Tratado de Methuen, com os vinhos e os têxteis, com a escravatura, as colónias em África, o Ultimatum, a participação na I e II Guerra, como membros fundadores da NATO ou, mais tarde, na União Europeia até ao Brexit, entre outros momentos.
Portugal prepara-se, assim, para celebrar os 650 anos desta secular aliança que, em vários aspetos, foi mais útil para os ingleses do que para os portugueses.
Se olharmos para a História de Portugal fácil será compreender que o Reino Unido ganhou, no âmbito desta Aliança, quer no domínio da geopolítica quer na geoestratégia.
No momento da sua celebração a Aliança entre potências marítimas condicionou o relacionamento de Portugal com a Europa continental. Depois, o casamento de Catarina de Bragança e o dote de Bombaim que esteve na base da Índia britânica. Mais tarde, com o Tratado de Methuen e o negócio dos têxteis e o domínio do vinho do Porto. No século XIX, foi a nossa vez, expulsando Beresford graças à revolução de 1820, no Porto.
No final desse século, sofremos o Ultimatum, que vai possibilitar o 31 de janeiro de 1891. Esquecidos no Congresso de Viena ou na Conferência de Berlim, sacrificados na Flandres durante a I Guerra. A invocação da Aliança, na II Guerra, com a concessão de facilidades nos Açores ou o tímido apoio durante a guerra colonial são exemplos dos altos e baixos desta Aliança.
Hoje, de novo, não podemos deixar de avaliar que Portugal representa, mais uma vez, a possibilidade de fazer uma ponte do Reino Unido com os seus aliados na NATO e, ao mesmo tempo, com os antigos parceiros da União Europeia.
Neste particular momento, a cidade do Porto não pode, também, deixar de reclamar alguns dos mais particulares momentos desta Aliança.
Ninguém melhor do que os cidadãos do Porto compreende a importância da mesma, afinal foi aqui que D. Filipa de Lencastre deu ao mundo um dos nossos mais importantes compatriotas - o Infante D Henrique.
O Porto percebe bem o sentido da frase de Lord Palmerston, duas vezes primeiro-ministro inglês, que " a Inglaterra não tem amigos eternos, a Inglaterra não tem inimigos perpétuos. A Inglaterra tem somente eternos e perpétuos interesses".
Professor universitário de Ciência Política