O espaço político do centro-direita e da Direita, em Portugal, tem sido, nos últimos dias, chamado à colação por desconhecimento da posição do PSD, perante o Chega, numa futura hipótese de coligação governamental.
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Luís Montenegro procurou serenar as expectativas deixando claro que o PSD não irá animar geringonças de Direita.
Foi um sinal significativo e uma espécie de pré-linha vermelha com o Chega. Contudo devemos olhar para o atual cenário político e tentar perceber como a maioria vai conseguir enfrentar a próxima sequência eleitoral: europeias, autárquicas e legislativas. Tudo está a apontar para um Partido Socialista muito desgastado com a contestação social e que poderá perder eleitorado.
Perante este cenário, como deve o Partido Social Democrata organizar-se para se afirmar como uma verdadeira alternativa democrática e evitar a armadilha de Ventura que é inevitável um Governo de centro-direita com a participação do Chega?
Será, pois, o tempo de sem tibiezas ou dúvidas dizer aos portugueses que o PSD honrando a sua história saberá motivar os eleitores para uma aposta coerente e séria com os valores da Constituição de 1976 que o PSD votou e ajudou, em 1982 e 1989, a reformar.
O caminho poderia ser constituir uma nova AD, com a Iniciativa Liberal, recuperando o CDS, liderada pelo PSD, incluindo independentes de centro-direita e centro-esquerda. Um movimento desta natureza permitiria enfrentar as eleições, sem grandes divisões ao Centro e à Direita, obrigando o Chega a ficar confinado à sua demagogia.
Uma solução que consiga inovar e promover uma nova agenda política, em Portugal, será sempre vista pelos portugueses como uma alternativa vencedora ao Partido Socialista e ao radicalismo de Esquerda.
Uma solução deste género permitiria continuar a defender os valores do Estado social, evoluindo para um novo paradigma e geração de políticas sociais. Problemas como o envelhecimento da sociedade, a debilidade no cumprimento das funções de soberania do Estado ou uma administração pública com mais escrutínio e menos setor público empresarial facilmente conseguem ser consensuais num programa de Governo entre estas forças políticas.
Na tradição da Aliança Democrática esta solução precisa de arrojo e coragem política. Em 1979, contra tudo e todos, Francisco Sá Carneiro soube convencer o seu partido e deu ao centro-direita a sua primeira maioria absoluta.
Francisco Sá Carneiro era um líder político e como ele afirmava "a política sem risco é uma chatice mas sem ética é uma vergonha".
Professor universitário de Ciência Política