A televisão tem mostrado, de uma forma intensa e sistemática, ao país as contradições de um caso que começou a propósito de uma indemnização, a uma antiga administradora da TAP, e agora está em volta de um computador.
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Pelo meio pouca preocupação existe em obter mais informação sobre o porquê duma reversão da privatização da companhia aérea, como foi gasto o apoio público de três mil milhões de euros durante a sua nacionalização e porque voltamos a um novo processo de privatização.
Coloca-se então a questão de saber se poderá estar em causa o regular funcionamento das instituições no sentido de exigir a dissolução da Assembleia da República.
A resposta poderá ser conseguida da mais variada ordem. Desde logo poderá ser negativa se considerarmos que o primeiro-ministro até teve oportunidade de ir ver um espetáculo musical a Coimbra ou poderá, talvez, ser positiva se considerarmos o alarido da Oposição.
Quem repara nas notícias que vão saindo, ao ritmo da espuma dos dias da República, compreende que estamos, acima de tudo, perante um simples caso de Polícia a que se pretende dar uma grande relevância política. Estamos também a chegar à conclusão é que existem pessoas que não reúnem as condições mínimas para ocuparem funções institucionais.
O presidente da República ganhou, de novo, o espaço da palavra e parece agora querer imprimir alguma consequência à sua avaliação da ação governativa.
Existe uma imagem de crise institucional que só o primeiro-ministro conseguirá ultrapassar. Um processo eleitoral antecipado não irá conduzir à resolução desta crise porque dele não sairá uma maioria estável e coerente que ofereça razões para os portugueses acreditarem num ciclo com uma nova agenda política.
Esgotada a agenda dos temas fraturantes, que políticas restam a estes políticos que nada conseguem acrescentar ao debate das causas? Existe ainda espaço para uma agenda reformista que consolide o Estado social, que prestigie as funções de soberania e reduza a atividade empresarial pública à expressão do interesse necessário, Portugal anseia por cidadãos que conheçam a vida das empresas e compreendam as dificuldades do quotidiano na mobilidade das pessoas. Precisa de quem entenda a vida institucional e que não retire elevação à liturgia do poder. Infelizmente essas personalidades não pretendem exercer essas funções porque, a exemplo do que disse Hannah Arendt sobre o mal, estamos a viver na banalização do pântano. O eng. António Guterres falou, pela primeira vez, de pântano, em 2001, porque considerava que não existia um grau mínimo de confiança entre governantes e governados. Agora parece que essa atitude se tornou banal.
*Professor universitário de Ciência Política