À Esquerda, o PS conseguiu atingir uma vitória. À Direita, o PSD não atingiu os seus objetivos. Esta poderia ser a conclusão do resultado do voto útil nas últimas eleições. O Partido Socialista pediu timidamente uma maioria absoluta. O PSD reforçou essa ideia quando se assumiu como uma verdadeira alternativa.
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O que falhou aqui?
O eleitorado decidiu castigar fortemente o Bloco de Esquerda e o PCP, acabar com a ideia de bloco central e permitir o emergir de uma nova Direita.
Depois destas eleições nada será como dantes. Perto de atingirmos os 50 anos de democracia, começamos, finalmente, a ultrapassar o tão célebre ano de 1975. O PCP perde, pela primeira vez, representação no Alentejo, em Évora e o seu apêndice na CDU, os Verdes, deixam de ter assento em S. Bento.
O radicalismo do PAN levou à sua irrelevância política. O Bloco de Esquerda perde dois terços do seu grupo parlamentar e já se percebeu que vai radicalizar ainda mais o discurso.
Esta é a situação à Esquerda e o resultado do beijo da morte de António Costa, o qual, ao fazer a geringonça, provou que os partidos à sua Esquerda não são confiáveis.
À Direita nasce um novo quadro político. Afirmam-se dois partidos para preencher o espaço do CDS- -PP o qual decidiu suicidar-se, em direto nestas eleições, perante os portugueses.
A Iniciativa Liberal e o Chega crescem dezasseis deputados, o que evidencia como a Direita não soube aproveitar o voto útil.
A partir de agora, o Parlamento vai conhecer um novo discurso no espectro partidário da Direita.
Será, pois, tempo para o PSD se assumir como verdadeiro líder da Oposição e compreender os anseios dos portugueses.
Nestes próximos quatro anos o desgaste do Partido Socialista será enorme porque não pode assacar as culpas aos outros. Estou convicto que no seu próprio interior irão começar as lutas para a sucessão de António Costa. Pedro Nuno Santos terá de refazer a sua estratégia para ser alternativa interna ao processo de mexicanização em curso que ameaça a sociedade portuguesa.
O PSD tem de perceber que o problema à Direita é estrutural e não conjuntural. Os eleitorados mudaram a Direita e, desse modo, vamos ter mais radicalização. Na rua, a CGTP irá fazer a luta que o PCP não consegue fazer no Parlamento.
O presidente da República vai ter de ajustar o seu discurso como válvula de segurança do sistema político-constitucional.
Até lá, o país preferiu a estabilidade à mudança e parece evidenciar a necessidade de governabilidade às reformas. Uma coisa parece ser certa: a partir de hoje, o PS deixa de ter estado de graça quando assumir as suas responsabilidades no Governo. A isso o obriga a nova geografia eleitoral da bipolarização imperfeita.
*Professor universitário de Ciência Política