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Num tempo em que o êxito político anda de mãos dadas com o (i)mediatismo das políticas, é quase uma heresia falar em dignidade. Pensarmos que, daqui a uns dias, o país mais poderoso do Mundo vai passar a ser governado por um mitómano da pior espécie eleito democraticamente por uma maioria que acreditou em tudo, mais do que inquietar-nos, deve fazer-nos refletir sobre as razões que levam a que, progressivamente, os impulsos sociológicos acabem na derrota dos sensatos. Isto para não falar da responsabilidade que os democratas norte-americanos tiveram na segunda canonização de Trump e de como vamos demorar anos a recuperar dessa estratégia eleitoral mal calculada.
Infelizmente, a dignidade que Joe Biden emprestou ao cargo de presidente dos Estados Unidos não passará de uma vírgula no curso da História. Mesmo que tenha derrotado Trump nas urnas e tenha credibilizado as instituições. Mesmo que deixe ao primeiro presidente da América a tomar posse com cadastro uma economia a crescer 3% e tenha ajudado a criar 17 milhões de empregos. Mesmo que, no fim da linha, tenha de facto contribuído para o Ocidente baixar a temperatura dos extremismos.
É arriscado concluir que os dias estão contados para os artífices do bom senso, mesmo que os grandes blocos que fazem girar o Mundo tenham, hoje, pulsões autoritárias nas suas entranhas. Mas o que podemos esperar dos próximos anos da América de Trump será uma mistura explosiva entre o regresso a um passado industrial impraticável e um radicalismo tecnológico onde a América é um farol. A agenda dos resultados vai secar tudo à volta. E Trump, o agente do caos, é um homem de resultados.