Com a abertura do Parlamento temos presente o começo de um novo ciclo político que terá, inevitavelmente, de trazer um novo espaço à Direita portuguesa.
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Com uma maioria absoluta, o Partido Socialista começa, este novo ciclo político, com um tabu a propósito se o primeiro-ministro completa ou não o seu mandato. Ironia do destino, o presidente marcou esse sinal no seu discurso de investidura do Governo.
O Governo e o PS sabem que à Esquerda qualquer resposta será sempre na rua. À Direita irão defrontar-se com várias direitas. A extrema-direita do Chega, radical e dita contra o sistema, à procura de ocupar o máximo de espaço possível. Depois com uma Iniciativa Liberal a querer ser uma cópia bloquista e também um CDS, fora do Parlamento, a ter de fazer prova de vida com a sua nova liderança.
Finalmente, com o PSD a procurar ser a verdadeira oposição na Assembleia da República.
Desde já, a pensar nas eleições diretas devem-se assumir dois candidatos: Luís Montenegro e Jorge Moreira da Silva. Cada um a procurar encontrar os restos da tralha de Passos e de Rio para tentar unir e fazer o melhor para ganhar a liderança do PSD.
Acontece que o PSD, seja qualquer for a sua nova liderança, tem de procurar já, quer no debate do programa do Governo quer na discussão do Orçamento, deixar evidente o que o separa do PS bem como dos partidos à sua direita.
A resposta estará na capacidade de iniciativa reformista que conseguir apresentar ao país. Cada vez mais precisamos dessa iniciativa, pois, entre o Governo Barroso e o atual governo Costa descemos de 15º para 21º lugares na União Europeia. Isto é estamos cada vez mais menos competitivos e menos ricos no contexto dos estados-membros.
Depois de um ciclo de austeridade forçada pela intervenção externa da troika, seguida de uma pandemia da covid-19 e agora com uma guerra entre a Ucrânia e a Rússia, tudo tem estado a mudar. Em Portugal, contudo, parece que estas coisas só acontecem lá longe sem reflexos para nós.
O Mundo mudou de uma forma que vai obrigar a fazer ajustamentos ao processo de globalização das economias e ao fortalecimento dos sistemas políticos democráticos.
O populismo vai sofrer o desgaste natural de um Mundo que, também para eles, mudou. Ora, a Direita democrática, a que preza os valores do Estado de direito e dos direitos humanos, que confia na centralidade do Estado social e valoriza os direitos, liberdades e garantias, tem aqui uma oportunidade de ouro para introduzir um novo discurso na sua intervenção parlamentar.
Esta sessão legislativa vai-se confrontar com eleições europeias, eleições autárquicas e presidenciais e devemos confiar em Alexandre O"Neill porque "há mar e mar. Há ir e voltar".
*Professor universitário de Ciência Política