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Quando todos teriam a expectativa de que a Direita, com a antecipação das eleições legislativas, poderia ganhar a possibilidade de constituir um Governo maioritário, a mesma parece ter dificuldade em afirmar-se. E porquê?
Em primeiro lugar, porque, ao contrário de Sá Carneiro, a atual liderança do PSD não tem privilegiado o diálogo com os partidos à sua direita. Não parece ter o talento para fazer uma coligação pré-eleitoral que permita aglutinar o CDS e a IL num movimento que envolva ainda independentes e personalidades de outras áreas.
O nosso sistema eleitoral permite que a concentração de votos possa vir a representar uma maior valia para o partido vencedor.
Ora, a Direita tem de perceber quantas vezes conseguiu governar num período que vai entre 1974 e 2023. Tivemos os governos da AD, com Francisco Sá Carneiro e Pinto Balsemão. Depois tivemos o Bloco Central, com Mota Pinto, o momento Cavaco, que durou uma década, e finalmente o tempo de Pedro Passos Coelho, sendo que quando este voltou a ganhar a Esquerda fez a geringonça para lhe retirar a legitimidade do poder.
Ora, esta aliança pré-eleitoral poderia dar tranquilidade aos eleitores moderados e afastar a possibilidade de o Chega vir a condicionar a agenda do Parlamento.
A direita precisa de se reconciliar com ela própria e o primeiro momento será o PSD compreender que o Mundo à sua volta mudou. Vivemos noutro ciclo da vida política, onde o desenvolvimento de forças extremistas é estranhamente normal em toda a União Europeia, e os recentes resultados nos Países Baixos evidenciam essa mudança dos eleitores.
No seu congresso, o PSD deu uma ideia de unidade e mostrou que tem soluções para o país. O partido procurou reconciliar-se com o seu eleitorado, principalmente os pensionistas, mas continua a ter dificuldade de passar a sua mensagem na comunicação e nas redes sociais. A conclusão maior será compreender que a Direita se mantém num processo de disputa de espaço eleitoral que só vai beneficiar o Partido Socialista. A recusa pela Iniciativa Liberal de um acordo pré-eleitoral atesta essa insuficiência. O Chega não pode ser o centro do debate político, como poderá ocorrer no caso do Orçamento dos Açores.
O exemplo do 25 de novembro mostrou como a força dos moderados conseguiu fazer oposição a uma ampla frente de esquerda. O eleitorado moderado, aquele que dá a vitória e ajuda a construir as maiorias parlamentares, será o que vai decidir os próximos tempos de Portugal. O que significa a defesa dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, afirmar a iniciativa económica que proporcione emprego e distribua riqueza e consolidando uma nova visão estratégica.
Afinal, em 1974, os três “D” significavam descolonização, democratização e desenvolvimento. Algures significaram, também, desemprego, défice e dívida. Em 2024, precisam de ser digitalização, demografia e descentralização. A ver vamos.