Dois homens, com dois perfis faces da mesma moeda. Eis a escolha da liderança para o PSD. Reduzida a uma opção de tribos? Quer um quer o outro não merecem que isso aconteça. Ambos são diferentes. Um tem mais capacidade de absorver a teoria. O outro tem uma prática mais executiva. Um esteve, um pouco, mais distante dos problemas. O outro passou, muitas vezes, ao lado deles.
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Tenho um conhecimento sério de ambos. Um com cerca de 20 anos, o outro já com um trajeto de 40 anos.
Ambos, curiosamente, estiveram ligados ao meu livro que resultou da minha tese de doutoramento. Um fez o seu prefácio enquanto o outro fez a sua apresentação.
Um é mais anglo-saxónico e aprecia a cultura, as viagens, sendo muito mais cosmopolita. O outro, claramente de influência alemã, ficando pelo mínimo, profundo na economia e cuidadoso no contacto com as multidões.
Ambos gostam de um raciocínio dedutivo e privilegiam uma abordagem de combate na luta política.
Seria injusto deixar a campanha interna entregue às tribos, aos sindicatos de voto ou a esse princípio que ninguém percebe, que um pode ser melhor líder da oposição e o outro melhor primeiro-ministro. Isso não existe em política. Francisco Sá Carneiro deu a resposta a esse dilema.
Ambos representam, neste momento, uma excelente chicotada psicológica para o PSD . Vão mexer com o partido e com o risco de se fechar sobre si mesmo. Só por si já vale essa diferença e essa luta pela liderança do PSD.
Infelizmente o problema não é só a liderança do PSD. O problema é estrutural e será muito importante que, ali e aqui, existam muitos mais momentos eleitorais participados, ao nível das distritais e das concelhias, que façam o PSD voltar a estar atento à sociedade civil e aos portugueses.
O PSD tem de se perceber que não pode ser uma cópia à direita do Partido Socialista. Tem de saber defender o seu código genético fundador: preocupações sociais e dar liberdade, com regulação, a economia.
Os chamados barões falaram a dizer que vão apoiar um dos dois. Agora será o tempo das bases. Do militante anónimo que não gosta que decidam por ele.
Exemplos, temos muitos, como Sá Carneiro ou Cavaco, na Figueira da Foz, só para evocar os dois líderes de quem se dizia derrotados e malvistos pelos donos disto tudo. Ambos souberam dar maiorias absolutas ao PSD.
A diferença terá de se encontrar em pormenores. O prognóstico do resultado esse será 1X2. Tudo é possível de acontecer.
No dia seguinte, com crise ou sem crise, quem ganhar não pode esquecer uma palavra: unidade.
Professor universitário de Ciência Política