Os recentes acontecimentos em volta das forças de segurança e da eventual alteração do modelo de funcionamento das esquadras da PSP não se insere só na redução da oferta de segurança que o Estado tem obrigação de cumprir.
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Falamos das funções de soberania do Estado, entre as quais a segurança interna, a par da defesa, da justiça e dos negócios estrangeiros, uma das de maior relevo que ao longo dos séculos este tem exercido.
Há quem diga que estamos num tempo de impostos máximos e serviços mínimos. Assistimos ao progressivo desaparecimento das competências do Estado muito por força da alteração do modelo social de organização da nossa comunidade.
Ao mesmo tempo, algumas forças populistas procuram logo alarmar a opinião pública levantando insinuações ou, mesmo, suspeitas sobre o comportamento de quem avalia científica ou estatisticamente os números e o ranking de Portugal no quadro mais alargado da segurança dos países. Somos um país seguro, no qual uma das suas maiores indústrias, o turismo, necessita dessa condição para ser atrativo.
Certo é que já não vivemos no tal país dos brandos costumes nem precisamos de uns safanões a tempo. A crise que chegou agora terá de ser acompanhada também de um novo paradigma para as forças de segurança ou de investigação criminal. Aliás, o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, esteve bem quando procurou evitar transformar este momento num lamaçal de intenções conjunturais de aproveitamento político e prontamente soube reagir.
O que esta situação mostrou é que a Polícia ou a GNR precisam de um novo modelo de funcionamento evitando transformar os seus elementos em funcionários administrativos e, antes, procurar obter, através da forma de serviços partilhados da administração pública, a resposta para muitas situações que podem ser solucionadas ou encontrar outras soluções noutros níveis de serviços públicos.
A reforma das forças policiais e de investigação criminal evidencia que a principal intenção será aproximar as forças de polícia dos cidadãos mantendo a necessária vigilância e segurança de pessoas e bens. As esquadras móveis, conceito já em uso noutros países, serão uma dessas respostas de proximidade que os cidadãos vão apreciar.
Existem assuntos que pela sua sensibilidade não podem ser usados como arma de arremesso político.
Agora, fica o tempo de agir e não de reagir. Olhar para os corpos de polícia e preparar o futuro já que o problema não será só de recursos humanos mas, como sempre, também de gestão de meios e de oportunidades.
*Professor universitário de Ciência Política