Há uns anos, numa visita a Bruxelas, cruzei-me com um casal improvável, um sérvio e uma croata. Tinham passado somente um par de anos desde a guerra da Jugoslávia, mas aquele jovem casal tinha um sonho para a sua geração e para os seus países. A adesão à União Europeia.
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Não conheciam a música do Tom Sawyer, a sua infância não teve desenhos animados ou séries juvenis, só intermináveis relatos de baixas de guerra. Mas isso não os tinha tornado amargos, pelo contrário, tinham a alegria e a esperança de quem finalmente vivia em liberdade. Queriam o desenvolvimento económico dos seus países e olhavam para nós europeus com a inveja boa de quem admira e ambiciona mais. Uma geração criada na guerra, mas que apaziguava os seus ódios motivados pela "cenoura" da prosperidade.
A Europa mudava o Mundo e exportava a paz para outros países, somente com a ténue possibilidade da adesão. Aconteceu no Leste, mas também em muitas das conquistas de direitos humanos na Turquia, hoje infelizmente com significativo revés.
Esta foi a Europa com que cresci, dinâmica, economicamente próspera, justa e influente.
Hoje, os tempos não são iguais. A economia europeia é cada vez mais um fantasma de si mesma. Hoje somente 15 das 100 maiores empresas do Mundo são europeias, no início do século eram 41.
Tornamo-nos cada vez mais um mercado importador e não exportador. Consumidores permanentes de bens chineses e americanos e produtores quase residuais.
Deslocalizámos grande parte da indústria, não educámos para o risco e não apostámos em escala. Por tudo isso, somos ultrapassados.
Enquanto continuamos a discutir a bazuca europeia, já perdi a conta a quantos biliões injetaram os Estados Unidos na sua economia. Falta-nos agilidade e faltam-nos lideranças capazes de inverter a situação. A Europa perde terreno todos os dias, e por este caminho a irrelevância geopolítica e económica será o seu destino.
E lembrei-me: que me diria, hoje, o casal improvável de Bruxelas?
Engenheiro e autarca do PSD