Tal como uma fatia de pão cai sempre com a manteiga para baixo, o aparecimento de uma pandemia e a perspetiva preocupante do reaparecimento de alguma inflação na União Europeia deixariam Murphy orgulhoso.
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Porém a realidade revelou-se traiçoeira. A guerra voltou. A Ucrânia é um país destruído e o seu povo, inocente, é votado ao purgatório em vida. O Mundo mudou e a economia mundial sente os impactos dos bombardeamentos de Mariupol, Kharkiv ou Kiev.
A situação gerada tende a não ser transitória ou passageira, reflete-se como transformadora e impactante. A inflação, tão temida, não se prevê moderada e o arrefecimento económico apresenta-se real. Esta semana o Banco de Portugal demonstra isso mesmo. A recuperação económica está adiada e o poder de compra vai baixar. Na previsão não pessimista, a inflação para Portugal, em 2022, de 1,8% em dezembro sobe para 4% e a previsão de crescimento baixa para 4,9%, ao invés dos 5,8% anteriormente estimados.
Acresce a estes números já de si preocupantes os impactos que serão sentidos em setores específicos da atividade económica nacional, como é o caso da agricultura, do turismo, ou da indústria. Não são só os combustíveis que dispararam o preço, com todo o impacto daí advindo, também o acesso a muitas matérias-primas básicas sofre com esta guerra. A OCDE aponta para uma subida no preço do níquel de 115% desde janeiro, no carvão de mais de 85%, no trigo de cerca de 90% e no milho quase 50%.
O impacto da escassez e aumento do custo de bens sente-se globalmente, mas como sempre, atingindo mais os que menos podem: as famílias de mais baixos rendimentos, os países menos pujantes e os continentes menos desenvolvidos. As carências alimentares em África tendem a acentuar-se. O peso das dívidas públicas ditará menos investimento e piores serviços públicos. As famílias mais pobres terão ainda mais dificuldades. O Mundo mudou e, infelizmente, o que se prevê faria de Murphy um otimista.
*Engenheiro e autarca do PSD