As leis da guerra só são cumpridas em tempos de paz. Este paradoxo é comprovado a cada conflito que emerge. Quando as bombas param e as batalhas silenciam, surgem os relatos e as imagens do horror. O alívio do fim é atropelado por uma náusea profunda. Não há racionalização possível para o que acontece guerra após guerra.
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Na paz a sociedade evolui, proclama-se e acredita-se na igualdade, mas na guerra as violações são a norma e as marcas deixadas em cada mulher são mais profundas e permanentes que os rastos de qualquer blindado.
A morte, a tortura a violência sexual passam a ser o recreio de jovens soldados que aí perdem a sua inocência. Vítimas e agressores são arrastados para um inferno com começo mas sem fim. A dor da desumanização ou o remorso da bestialidade que os tomou seguirão em paralelo num longo purgatório em vida. Os relatos da guerra na Ucrânia chegam-nos de rajada. Cada foto, cada tweet, cada relato é um tiro certeiro e doloroso nos nossos princípios, nos nossos valores, na nossa humanidade. Na nossa paz. Lembramos de Srebrenica, Alepo ou Cabo Delgado. Lembramos da Guiné e do relato pessoal de Marcelino da Mata, quando o diabo assinou com a nossa bandeira.
A guerra nunca é travada por Homens. Eram jovens, mas rapidamente são transformados em monstros. Condenados a esse estado por burocratas, que no refúgio de vãs narrativas geopolíticas e no conforto das suas cadeiras presidenciais não olham de frente a morte, não veem o seu camarada caído, não sentem o medo, a raiva ou o desejo sanguinário da vingança. São cobardes, quem tem o poder de decretar o fim da humanidade em tantos e tantos soldados.
Na guerra todos são vítimas, mesmo os do outro lado, os do mal. A lei não existe na guerra, mas as penas são eternas. Pagas, noite após noite, pesadelo após pesadelo. Condenados a reviver o momento em que se transformaram em sombras, em que esqueceram os sonhos de criança, se votaram ao silêncio, ao sofrimento e a esperar pela paz que só a morte ditará.
Engenheiro e autarca do PSD