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Na semana passada, num lugar perto de Londres, em Bletchley Park, onde foi aperfeiçoada a decifração do código Enigma dos nazis, sob a liderança de Alan Turing, o Governo inglês promoveu uma cimeira internacional com vista a discutir e fazer aprovar um documento orientador sobre o uso da inteligência artificial (IA).
A ideia foi juntar alguns países, cerca de 28, incluindo a União Europeia, os Estados Unidos, a China ou a Austrália e procurar criar um quadro geral de valores que possam resultar da avaliação técnica e do consenso de opções políticas.
Chegou, pois, o tempo em que a inteligência artificial pode evidenciar que a ficção científica dos filmes, como “2001 - odisseia no espaço”, pode estar aí às portas.
Claramente é um momento de mudança e de redobrada atenção para o uso que se poderá fazer desta tecnologia. Num tempo em que as guerras estão cada vez mais mediatizadas e o uso dos drones atinge uma importância destacada, a inteligência artificial obriga os estados a refletir sobre a sua utilização, quer no desenvolvimento de guerras biológicas ou de ninhos de armas nucleares.
Ao mesmo tempo, a democratização chegou à IA com o ChatGTP, cuja utilização está a revolucionar o Ensino Superior e a forma dos estudantes estudarem ou apresentarem trabalhos.
Existem, assim, riscos associados de ordem política, social e económica que começam a preocupar os decisores políticos no sentido de se introduzir regulação nesta tecnologia que facilmente se revela como difícil devido à sua fragmentação e regionalização pelo Mundo.
Vários setores estão já a recorrer à IA, como a eletrónica, a computação, a indústria automóvel, o comércio de retalho, a indústria alimentar, o mobiliário e os têxteis. Na saúde, o desenvolvimento desta tecnologia tem sido muito acelerado, não só pela introdução da robótica na cirurgia, tendo chegado ainda à gestão de hospitais como o Johns Hopkins (EUA), o Bradford Royal Infirmary (UK) ou na elaboração de diagnóstico, como acontece nos hospitais de Shanghai.
Desde a China aos Estados Unidos, passando pela UE, foi já produzida legislação, em 2023, para permitir a regulação deste setor proporcionando uma oportunidade que não deixa de trazer preocupantes riscos.
Então o que se produziu nesta cimeira promovida pelo Governo britânico, na qual participou também o secretário-geral da ONU, António Guterres, foi uma declaração política cuja subscrição alerta para a necessidade de cooperação internacional e de diálogo global, já que as fronteiras, aqui, são digitais e não físicas.
A declaração de Bletchley promete continuar esta reflexão para o ano. Resta esperar que o Governo português esteja também atento a esta gigantesca transformação que terá um impacto no nosso mundo como as que nos trouxeram Copérnico, Newton ou Einstein.