À medida que a guerra entre a Ucrânia e a Rússia avança, vamos conhecendo, de uma forma brutal, a violação dos direitos humanos, pelos exércitos russos, cometendo atrocidades que se pensava possíveis só feitas pelos nazis.
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Putin trouxe-nos, de volta, a um pesadelo que queríamos longe das nossas vidas. A guerra voltou a ser uma realidade que arrasta os refugiados, impacta na economia, com a inflação a ganhar terreno, e nos altera o mundo de conforto que conhecíamos.
A geopolítica vai-nos mostrar que a ordem internacional liberal, saída da II Guerra Mundial, poderá ficar em causa.
A possibilidade de se criar uma nova ordem financeira entre a Rússia e a China, paralela à existente, à qual se poderia arrastar o Brasil e a Índia, os chamados BRIC, falhou. Será possível que as sanções económicas possam agora fazer o seu caminho e ter o impacto que todos desejam e aguardam?
A NATO e a União Europeia saem desta crise reforçadas. A possível entrada na NATO da Finlândia e da Suécia será o resultado que a Rússia não deseja, mas que poderá ser uma realidade.
A China, por seu turno, não quer que esta guerra continue e o bloco ocidental continue coeso no apoio à Ucrânia. Daí ter dado um tímido sinal ao não permitir a cooperação entre cientistas chineses e russos.
Este combate, na Ucrânia, vai continuar, pelo menos, até ao dia 9 de maio, quando Putin vai querer manter a tradição de fazer uma grande parada militar em Moscovo.
Para isso, e para poder fazer uma grande festa comemorativa da vitória soviética, Putin precisa de poder oferecer uma vitória plena. Ora tal poderá não ser possível. De um lado, as elevadas baixas em combate, quer em meios humanos quer em material de guerra. Do outro, o elevado moral das tropas ucranianas que assenta na sua resiliência e capacidade de combate e cujo melhor exemplo é o afundamento do navio-almirante Moscovo.
Alguns dirigentes europeus têm visitado Kiev, como Ursula von der Leyen ou Boris Johnson, e dessa forma levam a solidariedade de todo um espaço de liberdade ao povo ucraniano. A segurança na Europa está hoje a ser posta em causa pela leitura errada que o senhor Putin faz da história.
No Pacifico, o Mundo também vai ficar perigoso. Aí será a aliança russo-chinesa a sentir-se ameaçada pela aliança norte-americana, australiana e inglesa.
Vamos, provavelmente, rever o modelo de funcionamento das organizações internacionais. Vamos, de certeza, viver tempos de nova Guerra Fria.
Com a ameaça dos discursos populistas, na Europa, nesta guerra a luta será consolidar a paz, afirmando os ideais de liberdade porque essa será a única vitória que interessa aos povos.
*Professor universitário de Ciência Política