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A vida portuguesa está cheia do que agora se chama perceção, algo que poderíamos traduzir como “tenho a sensação de” ou “parece que”, ou seja uma ideia que se tem sobre algo.
Esta ideia de perceção ocorre, com muita frequência, em ambiente desportivo, no mundo artístico e, inevitavelmente, na vida política como uma outra forma de se olhar para a realidade.
Na vida política, esta perceção, que o dr. Salazar resumia de uma forma lapidar à ideia de que “em política o que parece é”, atinge níveis extremamente complexos.
Basta atender à ideia de que os dois principais partidos políticos do nosso sistema não estão a compreender o cerco que os extremos estão a provocar no centro e na moderação da ação política.
Basta reparar neste arraial que foi juntar, em Madrid, o grupo dos patriotas europeus e observar o seu lema de uma Europa grande outra vez, adaptando a sigla do MAGA de Trump, onde estava lá um primeiro ministro de um estado da União Europeia (Hungria), o líder espanhol do Vox a reclamar, outra vez, um 1482 de conquista aos mouros, a Senhora Marine Le Pen que poderá vir a ser o principal problema presidencial, em França, e o inevitável Ventura a fazer das suas e feliz por não ter ficado sem as malas no Aeroporto de Barajas.
Ora, transposta esta perceção para a política caseira vemos que o PSD e o PS se preparam para abordar as presidenciais com candidatos próprios, partidários e sem grande capacidade de agregar outros espaços da sociedade civil. Na ausência de uma resposta moderada e abrangente a candidatura do almirante Gouveia e Melo está a fazer o seu caminho. Distante, na sua origem, dos partidos assenta na cidadania e na capacidade de devolver à Presidência da República o recato necessário para se consagrar uma ideia muito cara a Luís Marques Mendes, que é a da estabilidade política.
Ao mesmo tempo as eleições autárquicas parecem começar a mexer com um novo posicionamento no Porto onde, finalmente, parece que Pedro Duarte percebeu que tem de ir à luta para afirmar o legado do PSD e dos seus parceiros na região.
Num tempo onde muitos valores, ideias e princípios vão ser colocados em causa será importante não esquecer o necessário compromisso com a verdade, assumida esta numa ideia de comportamento ético e de salvaguarda dos direitos, liberdades e garantias de todos.
Não podemos esquecer que os 50 anos de democracia nos obrigam a ter mesmo uma perceção diferente que olhe mais para a realidade e menos para certos discursos. O que significa saber compreender a diferença entre o real e o formal. Afinal algo que Francisco Sá Carneiro, em 1979, já enunciava quando dizia que “o país real quer coisas práticas, ver resolvidas com pragmatismo e eficácia. Quer o fim da total instabilidade que se verifica há uns anos na sociedade portuguesa”.