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Durante anos disseram-nos que a juventude era o futuro. Mas há um futuro que parece nunca chegar, substituído pela frustração de planos constantemente adiados para mais tarde.
Num país onde os salários são baixos, a habitação é inacessível e o custo de vida não pára de subir, ter paciência tornou-se cada vez mais difícil. E não podemos fingir que esta realidade é normal. Nunca houve gerações tão qualificadas com tão poucas perspetivas. Segundo o Centro de Estudos da Federação Académica do Porto, mais de 73% dos jovens ponderam emigrar. E não por falta de amor ao país, mas por ausência de condições para nele viver. As estatísticas mais recentes mostram-nos que quatro em cada cinco jovens ganham até 1.000 euros e que apenas 6% têm salários acima dos 1.500. Com este tipo de rendimentos, será possível sair da casa dos pais?
Portugal é dos países europeus com mais jovens adultos a viver com os pais. Hoje, o acesso à habitação é um luxo, mesmo para estudantes. Um quarto no Porto custa mais de 400 euros. Para muitos jovens que gostariam de tirar um curso superior, é um obstáculo intransponível. Adiar sair de casa, adiar ter filhos, adiar viver condignamente. Este adiamento coletivo está a estagnar a nossa sociedade. É preciso entender que uma juventude adiada causa um país bloqueado.
É preciso habitação, saúde mental e empregos de qualidade. É preciso respeito! Os jovens sabem que não lhes pode ser devolvido o tempo perdido. Mas, pelo menos, querem que parem de lho roubar.
* Presidente da Federação Académica do Porto