Corpo do artigo
A quebra nas candidaturas à 1.ª fase do Concurso Nacional de Acesso ao Ensino Superior exige uma leitura mais fina. Em termos absolutos houve menos 9161 candidatos do que em 2024. Mas essa variação exige contexto.
A explicação, em grande parte, está na demografia. Os números relativos aos estudantes inscritos no ensino secundário não mentem: 397100 alunos em 2022, 394964 em 2023 e 389537 em 2024. Portanto, a redução do número de candidatos ao ensino superior não tem a ver com desinteresse. É, em parte, reflexo de uma quebra demográfica em curso há vários anos. Aliás, no exame nacional de Português, o único obrigatório, este ano inscreveram-se 80001 estudantes. São menos 4775 do que no ano anterior.
Ainda assim, a quebra registada nesta 1.ª fase é muito mais significativa do que as registadas em outros anos. A demografia não é, por isso, a única explicação. Há outro dado que raramente entra nas análises: o alojamento tornou-se o maior custo de frequência do ensino superior. As rendas dispararam e a oferta pública continua aquém. Muitos estudantes nem chegam a concorrer, ou desistem após serem colocados.
Na Universidade do Porto, os deslocados passaram de 38% em 2018 para 24% no ano passado e no Politécnico de 31% para 23%. Há quem prefira culpar a exigência do modelo de acesso. É uma crítica fácil, mas que desvia o olhar do problema real. Enquanto o alojamento continuar a ser um luxo e não um direito, a igualdade de oportunidades no ensino superior será uma ilusão para os estudantes deslocados.