Aconteceu recentemente no Reino Unido e chegou a todo o Mundo. O Jubileu de Platina da rainha Isabel II comemorativo dos seus 70 anos de reinado. Esta comemoração pretendeu fazer a passagem de testemunho num país onde a monarquia constitucional conseguiu, com Isabel II, assumir-se como uma verdadeira instituição.
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O reinado de Isabel II confunde-se com o Reino Unido, depois da II Guerra Mundial, numa verdadeira metamorfose onde se mistura a vida de uma família com a instituição representativa de vários estados que integram a Commonwealth.
Desde Churchill a Johnson, o papel e o perfil dos seus primeiros-ministros evidenciam o modo diferente como se foram ultrapassando as crises institucionais no país. Eden com a crise do Suez, Macmillan com os ventos da história e o escândalo Profumo, Alec Douglas-Home antecipando Wilson, Heath com a entrada na CEE, Wilson, de novo, e Callaghan com as contradições do Estado social, Thatcher com a reforma do menos Estado, melhor Estado e as Malvinas, Major não aceitando o euro, Blair apostando numa terceira via, Brown mais voltado à esquerda, Cameron prometendo um referendo e atacando o Iraque, May gerindo a saída da União Europeia, e, finalmente, Johnson retirando da União Europeia e fazendo a gestão da guerra. Arrisco dizer que de todos os seus primeiros-ministros, a rainha fica marcada por três. Churchill, com quem deve ter aprendido a fazer a gestão da política, Thatcher, pelo seu carisma, e Tony Blair, por ter sido o seu primeiro primeiro-ministro que nasceu já consigo rainha e trouxe um novo Partido Trabalhista. Como diz um dos seus biógrafos, Marc Roche, "os Windsor gerem a sua popularidade da mesma maneira que os políticos, encomendando sondagens e inquéritos de opinião. A acreditar neles, a monarquia está de boa saúde, com a popularidade a ultrapassar a de todas as outras instituições do país, como a Igreja, as Forças Armadas e o Parlamento".
A personalidade da rainha confunde-se com a vitalidade da monarquia num país que continua a valorizar a tradição e que se adapta à mudança do Mundo de uma forma muito determinada e decisiva. A lei da vida um dia vai aparecer e quer Carlos III ou Guilherme V sabem que a herança da sua mãe e avó já ultrapassou, em muito, a da sua rainha.
A solidez de um sistema político que será sempre o berço da democracia e do parlamentarismo tem vindo a ultrapassar as mais diferentes crises com um elevado sentido de responsabilidade. Poucos sistemas políticos colocam a votos o seu primeiro-ministro numa prova de censura dos seus próprios pares.
Com a rainha, neste novo ciclo de vida política, temos o Reino Unido fora da União Europeia e dentro da NATO com, cada vez mais, o espírito atlântico e europeu que Churchill reclamava como um sinal distintivo no conjunto das nações.
*Professor Universitário de Ciência Política