Ao longo deste ano temos sido confrontados, enquanto sociedade, com um conjunto de acontecimentos que exigem uma outra reflexão no modo como vamos continuar a conjugar a nossa inteligência emocional com a nova inteligência artificial.
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Uma das conclusões que é possível retirar das audições da comissão de inquérito à TAP, por exemplo, implica com a noção e sentido de verdade. Com efeito, os vários protagonistas nada mais têm feito do que afirmar um conjunto de contradições que parecem acabar sempre numa ameaça às instituições democráticas. O primeiro-ministro, aliás, já teve oportunidade de referir que saberá, no final dos trabalhos da referida comissão, retirar as devidas conclusões.
Esta distorção da realidade parece ir de encontro àqueles que costumam defender as teorias da conspiração e alimentam as chamadas notícias falsas.
O debate, esse, afirma-se, cada vez mais, como ruidoso e com uma vontade infinita de todos os dias trazer uma notícia nova que tem prejudicado, muitas vezes, pessoas inocentes nesse processo.
A dinâmica social de histeria contínua atingiu um novo zénite com os casos de assédio sexual, na universidade, que parecem ter como referência um conhecido professor e paladino do mesmo tipo de pensamento que o está a atingir.
Esta consecutiva negação da verdade, muito graças à capacidade do efeito multiplicador das redes sociais, parece estar a condicionar, em Portugal, a agenda política.
O Partido Social Democrata (PSD) acaba por ter dificuldade em conseguir escapar a essa armadilha da realidade alternativa. Luís Montenegro parece estar agora a compreender, não recorrendo a intermediários, ser necessário conseguir um diálogo permanente com os portugueses e manter estes esclarecidos sobre as diferenças entre o PSD e o Chega. Com efeito, torna-se decisivo, se o PSD quiser ter um papel ativo na governação, afastar qualquer possibilidade de acordo com André Ventura porque o mesmo é lesivo dos princípios humanistas onde assenta a base fundacional do PSD.
À nossa volta, o mundo continua a mudar de uma forma acelerada e agressiva, o que a recente visita do presidente Lula da Silva à China veio evidenciar. A criação do Banco dos BRICS pretende ser uma alternativa, ainda que não se consiga antecipar como, ao dólar americano e à hegemonia financeira do Ocidente. Um dado novo, na geopolítica, é o facto de a Índia ter ultrapassado a China ao nível populacional. Isto significa um desafio imenso para o modo como os EUA e a União Europeia devem olhar para o potencial desse país.
Estando tudo a mudar, o PSD também vai precisar de inovar na maneira de fazer oposição e fugir à ratoeira da narrativa onde assenta essa sociedade da pós-verdade.
*Professor universitário de Ciência Política