A tomada de decisão é um dos momentos mais críticos em qualquer fase, seja empresarial ou política, de um processo.
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Nos últimos tempos temos visto inúmeros casos que assentam em processos onde a tomada de decisão foi, no mínimo, leviana ou ligeira.
Existem vários exemplos que podiam justificar esta nossa afirmação. Um deles é o caso da recente visita do presidente do Brasil, Lula da Silva, a Portugal. Aquilo que podia e devia ser um grande momento de encontro entre dois povos irmãos, sem qualquer mácula, fica marcado por dois acontecimentos que proporcionaram imenso ruído mediático.
De um lado, o convite para o presidente brasileiro discursar nas cerimónias solenes das comemorações do 25 de Abril, sem se observar a independência e a vontade decisória do Parlamento. Do outro, as afirmações de Lula da Silva, na China, acusando a UE e os EUA, ao apoiarem a Ucrânia, de instigarem o conflito com a Rússia.
Ora qualquer uma destas decisões, de parte a parte, não foi objeto da respetiva ponderação que os assuntos de Estado merecem e exigem a quem exerce os mais elevados cargos na sua hierarquia.
Outro situação flagrante é a que envolve a Comissão de inquérito à TAP onde o Partido Socialista e o Governo chegam a defender situações que documentalmente não existem. Relembro o célebre caso do parecer jurídico que fundamentou a saída do presidente do Conselho da Administração e da CEO da companhia. Tivemos mesmo três ministros a defender, aparentemente convictos, a existência de um parecer jurídico até que um quarto veio afirmar que o mesmo afinal não existia.
Ao mesmo tempo vamos assistindo ao presidente da República a preparar o país para uma tomada de decisão mais complexa e com consequências evidentes. Tal como o príncipe Hamlet, ser ou não ser, eis a questão. Dissolvo ou não? A resposta fica a aguardar, pelo menos ainda que sem recato público, a ponderação de uma sensata decisão.
O processo de tomada de decisão merece sempre muita ponderação mas também exige suficiente determinação porque sendo gerador de muitas expectativas envolve uma dimensão que atinge a credibilidade do agente que impulsa essa mesma decisão.
Estas situações acabam por afastar a confiança dos cidadãos nas instituições democráticas e nos seus principais protagonistas, abrindo caminho ao populismo dos extremos e levando a conversa de café ao Parlamento como forma de promover a discussão política.
Esperemos que todos compreendam o preventivo conselho do filósofo espanhol George Santayana de que "quem não recorda o passado está condenado a repeti-lo".
Professor universitário de Ciência Política