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O JN publicou, no dia 4 de março, um artigo sobre os estudantes do Ensino Superior que desistem dos seus cursos, logo no primeiro ano. Este problema interpela as universidades. Pergunto: temos os mecanismos para o enfrentar?
A última grande reforma do Ensino Superior, designada Processo de Bolonha, começou a ser desenhada na Europa em 1995/96 e demorou cerca de dez anos até que se iniciasse a sua aplicação nacional. Em Portugal, a aplicação ocorreu entre os anos 2005 e 2009, com a aprovação e revisão de vários diplomas legais. Nessa altura, muito mudou, sobretudo no que respeita à diversidade da oferta formativa e à duração e organização dos cursos.
Os três objetivos mais importantes da reforma foram, e são ainda, a mobilidade de estudantes e de professores no espaço europeu de Ensino Superior, a aprendizagem ao longo da vida, ou seja, a recorrência e a possibilidade de qualquer ex-aluno regressar à universidade para completar ou atualizar as suas competências, e, por fim, a autonomia e alargamento das possibilidades de escolha dos estudantes na construção do seu percurso académico.
Tais objetivos concretizam-se através do mecanismo de portabilidade europeia das formações com base no sistema de créditos ECTS, na oferta de formações mais curtas e modelares e com a inclusão, nos planos de estudo, de componentes de escolha inteiramente livre. Bolonha enterrou o paradigma das formações universitárias iniciais longas, fechadas e para toda a vida. Daí para cá não houve outras reformas do Ensino Superior.
O Mundo, entretanto, mudou muito. Hoje, as universidades enfrentam novos desafios, da transformação digital às alterações climáticas, das mudanças na geopolítica aos efeitos de uma globalização desregulada, do aumento da concentração da riqueza aos dilemas colocados pelas migrações. O Mundo mudou e mudou aquilo que jovens e adultos esperam das universidades. Colocam-se ou reforçam-se novos e velhos desafios tanto no plano da produção e difusão de conhecimento, como no do acesso a esse conhecimento por jovens e adultos.
Haverá muitas razões para os estudantes desistirem dos cursos que escolheram (e voltarei a este assunto). Algumas delas exigem respostas novas das universidades. Porém, penso que não é necessária uma nova grande reforma do Ensino Superior. Bolonha mantém inteira atualidade e o seu potencial pode ser explorado para resolver este e outros problemas. Com Bolonha, é mais fácil a quem abandonou regressar a uma instituição de Ensino Superior do espaço europeu e ver reconhecida tanto a formação que fez como a sua experiência profissional.