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Enquanto a esmagadora maioria dos eleitores reflecte no dia de amanhã, outros, imaginamos que de forma absoluta e reflectida, já votaram antecipadamente. A campanha eleitoral gasta hoje os últimos cartuchos, numa espécie de insistência num terreno comum sem surpresas. A ideia de que tudo será semelhante, feita e confirmada pelas sondagens, é um apelo claro ao abstencionismo de um povo cansado das eleições que ainda estão para vir. Os pequenos acertos pontuais que se preveem com o reforço da Iniciativa Liberal e do Livre não devem ser determinantes para uma maioria de governação que possa evitar a tentação de voltar à instabilidade e à hipótese de comissões parlamentares de inquérito. Embora talvez com algum período de nojo e aceitação, mal seria se as eleições servissem para julgar a moralidade dos actos. Se tal acontecer, estamos mais perto da americanização da política portuguesa do que alguma vez julgámos. Tendo em conta a língua e os costumes, a sul-americanização.
A americanização e demagogia na política não se vislumbra apenas pela tentativa de julgamento popular de Luís Montenegro relativamente a empresas “familiares”. Os recentes e recorrentes problemas de saúde que têm vindo a fazer a campanha de André Ventura são, também eles, um medidor à inteligência emocional do eleitor. À semelhança de Trump e Bolsonaro, a mediatização das convulsões é, também ela, um indicador de como alguma comunicação social troca o trigo pelo joio, colocando um acelerador emocional na campanha sem tratar de que os outros partidos ou candidatos apareçam num plano de mínima igualdade e equidade. O voto de domingo dirá muito sobre o tratamento hospitalar de urgência de alguma comunicação social, só aparentemente utilizadora de pulseira laranja.
Por mais dissonante que possa parecer, o anúncio da candidatura presidencial do almirante Gouveia e Melo é o tiro mais certeiro da campanha das legislativas e isso diz muito sobre quem sobrevoa e sobre quem aterra sem chão. Também aqui o carácter emocional. Independentemente do resultado eleitoral, independentemente do que venha a decidir Marcelo, o sinal de estabilidade está dado com divisas e leitura política. Pode ser estratégia militar, mas já veste à civil.