O professor Adriano Moreira faz, no próximo dia 6 de setembro, 100 anos. Uma idade que justifica um muito especial parabéns a você porque representa um tempo de vida excecional e sempre de serviço público.
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Transmontano, filho de gente simples e humilde, soube lutar para subir na vida e acima de tudo assumir uma invulgar capacidade de intervenção cívica.
Como académico e universitário, político, governante, deputado ou líder de um partido, Adriano Moreira atravessou dois regimes, mas o seu caráter de serviço e de homem de pensamento nunca teve de se alterar. Foi alguém que soube dizer não a Salazar quando quase todos diziam sempre sim. Não me esqueço da forma como ele me contou esse episódio.
Ao longo dos últimos trinta anos tive oportunidade de, várias vezes, falar com ele e ouvir as suas magníficas histórias que nos ajudavam a compreender os livros da História. Convivi com ele no Parlamento, quando o CDS o partido que liderava era conhecido pelo partido do táxi, e, noutras vezes, graças à sua grande amizade com o professor Vieira de Carvalho, no Clube Via Norte, no âmbito das suas conferências.
Adriano Moreira é alguém que deu um forte contributo à vida política nacional e tem um legado de pensamento na ciência política e nas relações internacionais que continuará a influenciar consecutivas gerações de estudantes e de académicos.
Foi um dos poucos responsáveis do antigo regime, com Veiga Simão ou Silva Pinto, que acabou por terem relevo destacado no regime de Abril e dar um grande contributo para a sua consolidação democrática.
Tinha uma visão para o Ultramar que poderia ter permitido a evolução do regime, pois começou nas Nações Unidas e sentiu, de perto, a chegada da mudança dos ventos da história.
Acabou, assim, a fazer a ponte entre a velha ordem, de maio a abril, e a democracia.
Escreveu, refletiu, comunicou, conheceu muita gente. Conservador e com preocupações sociais, o seu legado evidencia como é possível ser inteligente em política e compreender o Mundo. Europeísta convicto, sabe a importância da soberania de serviço que Portugal pode desenvolver na geopolítica internacional.
Adriano Moreira acaba por ser um príncipe da nossa democracia. Admirado por todos, da Esquerda à Direita, ensinou-nos como o caráter é importante na nossa vida.
Afinal foi ele, perante a afirmação de Salazar da necessidade de se mudar de política para o Ultramar, que respondeu ao velho ditador: acaba de mudar de ministro, senhor presidente.
Poucos saberiam ter uma atitude de sobressalto cívico com esta coragem.
*Professor universitário de Ciência Política