"A política não é uma atividade de governar, mas sim a determinação da forma e da matéria do governo; e não existe lugar para a "política" quando essa forma e matéria estão predeterminadas e são consideradas como imunes à escolha e à mudança". (Michael Oakeshott, "Moralidade e política na Europa moderna")
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Estamos a viver um período de férias, diferente dos habituais, mas com caraterísticas que não mudam de inércia e imobilismo.
No atual cenário político os portugueses vão sentindo a falta de energia de um Governo que tem medo de fazer reformas e dá sinais contraditórios para o exterior.
O primeiro-ministro anseia pela chegada dos dinheiros do PRR, para manter os seus apoiantes contentes, deseja que as eleições autárquicas passem depressa e a discussão do Orçamento do Estado não se transforme num pesadelo.
Temos de aceitar que o Governo e o Partido Socialista estão a viver, mesmo com os erros da comunicação no âmbito da pandemia da covid-19, um momento de sorte que as sondagens refletem.
Tudo isto graças à Oposição de Direita que continua numa deriva errática cujo destino será desolador.
O PSD, a quem compete a iniciativa política, neste espaço político, continua a dar sinais, no mínimo contraditórios, sobre a escolha do tempo de agir. Depois a IL e o CDS atrapalham-se a ver quem faz mais ruído. Finalmente, o Chega produz barulho em barda e parece querer , cada dia, fazer acreditar as pessoas num outro Portugal que já não existe e não volta. A Direita da "ordem e do securitismo" tem de perceber que esse tempo já acabou como acabou o tempo dos monárquicos. Nesta matéria, a história não tem contemplações.
Vivemos, assim, numa espécie de País das Maravilhas onde a nossa Alice passeia nos jardins e nos bosques sonhando e vivendo desses mesmos sonhos.
Como no livro de Lewis Carroll, Alice procura o coelho branco numa toca onde descobre um mundo excêntrico e começou a correr quando quis e parou quando lhe apeteceu e por isso não lhe foi fácil saber quando a corrida acabou.
Alice aqui tanto pode ser o primeiro-ministro como o líder da oposição.
Uma coisa é certa, após as eleições autárquicas começa um outro calendário político onde o presidente vai dar sinais de inquietação.
Portugal, hoje mais velho, mais pobre e mais endividado, vai ter de mudar de vida, tal como Alice quando acordou do seu sono e ficou a pensar no seu sonho.
Num mundo competitivo, quase já pós-pandémico, a Oposição de Direita tem aqui um grande desafio: evitar a perpetuação do PS no Governo.
*Professor universitário de Ciência Política