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O reforço de energia e de força anímica que nos chega no arranque de um novo ano permite-nos sonhar mais alto e ver mais longe, surgindo com muita nitidez a saúde como motor do nosso desenvolvimento coletivo.
De pouco serve, contudo, se for uma visão fugaz e que depressa se deixa desvanecer pelos cada vez maiores desafios que o dia a dia nesta área nos está a trazer. É, por isso, de ambição, necessariamente sustentada e estruturada, que precisamos: temos de saber minimizar a ótica de despesa e privilegiar a abordagem de investimento; temos de deixar de olhar apenas para a nossa realidade e as nossas circunstâncias e apostar na globalização e na internacionalização; temos, definitivamente, de abandonar a mesquinhez da paróquia e ousar o Mundo.
Dispomos hoje de bastantes pontos para ancorar essa ambição que vão de um sistema nacional de saúde com elevado desempenho - apesar de todas as melhorias e reformas que não podemos continuar a adiar -, até um sistema de investigação que compara bem com a realidade de outras geografias - apesar, neste caso, de uma preocupante degradação que se tem vindo a observar na última década -, passando por um tecido empresarial em acentuado crescimento, com cada vez mais casos de sucesso e de afirmação nos mercados internacionais mais exigentes.
Na minha anterior crónica (24 de dezembro), procurei chamar a atenção para a necessidade de um pacto de regime sobre o essencial e o estrutural para o Serviço Nacional de Saúde (SNS), de forma a podermos levar a cabo as reformas ousadas, mas imprescindíveis, que há muito estão consensualmente diagnosticadas.
Ora, este pacto pode, e deve, ir mais longe e incluir as linhas mestras de uma estratégia desenvolvimentista para todo o setor, que o projete para patamares de elevado desempenho, concretizando um ciclo virtuoso assente na sustentabilidade do sistema de prestação de cuidados, por um lado, e na competitividade de cluster em que este está inserido, por outro.
É perfeitamente exequível, como bem ilustra o comportamento das exportações de produtos de saúde nos últimos anos (cresceram de 1,3 para 3,3 mil milhões de euros entre 2018 e 2023), passar, a breve prazo, de uma balança comercial negativa para uma superavitária.
O Health Cluster Portugal (HCP) tem ideias muito claras e, nesse sentido, tem vindo a dinamizar iniciativas emblemáticas como: a criação da marca Health Portugal, a conceção e a coordenação da Agenda Mobilizadora Health from Portugal, o lançamento de planos anuais de internacionalização, a organização da Innovating Health Together Conference, a criação do Hub Health Business Portugal ou, ainda, o foco na chamada Smart Health, com relevo para o tema da utilização secundária dos dados e das abordagens Value Based Healthcare.
Mas não chega. Também aqui a ambição só poderá ser realidade se soubermos juntar todos, em posições concertadas, à volta de uma estratégia nacional, lúcida e audaz, que posicione Portugal, na próxima década, como uma referência global na saúde, emergindo a smart health como aposta natural e alinhada com as tendências mundiais neste domínio.
O mais difícil vai ser mesmo conseguir contrariar a atração pelo minifúndio, que tanto nos tem condicionado.